Em declarações aos jornalistas no parlamento, Telmo Correia, coordenador do CDS na comissão de inquérito ao furto de Tancos, afirmou ser necessário separar a investigação judicial do apuramento de “responsabilidades políticas”, feito no parlamento, pelos deputados e afirmou o princípio da presunção da inocência de Azeredo Lopes.

No entanto, no dia seguinte à constituição de Azeredo como arguido no processo judicial, Telmo Correia insistiu nas responsabilidades políticas quanto à recuperação, ou “achamento”, do material roubado, em 2017, em que a PJ considera ter existido uma encenação por parte da Polícia Judiciária Militar (PJM).

“O que nós sabemos é que o Governo soube, o chefe de gabinete [de Azeredo Lopes] soube, o ministro soube, e durante um ano não fez nada”, disse Telmo Correia, em declarações aos jornalistas.

Como “não é crível” que nem o ministro da Defesa nem o primeiro-ministro tenham trocado informações sobre o assunto, alegou ainda.

“É evidente existem responsabilidades gravíssimas nesta matéria e que chegam, embora num nível não tão elevado, ao primeiro-ministro”, acrescentou.

Só depois de estar “concluído este inquérito” haverá mais informação e será possível fazer “uma releitura política” do processo.

O ex-ministro Azeredo Lopes foi constituído arguido na quinta-feira no processo sobre o furto de Tancos, considerando que esta condição, apesar de garantir mais direitos processuais, é “socialmente destruidora”.

“Comunico que fui ontem (quinta-feira) constituído arguido no processo relativo ao chamado ‘caso Tancos’. Esta condição, se é verdade que me garante mais direitos processuais, é absolutamente inexplicável tendo em conta os factos relativos ao meu envolvimento do processo, que foi apenas de tutela política”, refere Azeredo Lopes, em comunicado enviado à agência Lusa.

O ex-ministro da Defesa mostrou-se convicto de que vai ser “absolutamente ilibado de quaisquer responsabilidades neste processo”.

O furto de material de guerra foi divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017 e, quatro meses depois, a Polícia Judiciária Militar (PJM) revelou o aparecimento do material furtado, na região da Chamusca, a 20 quilómetros de Tancos, em colaboração com elementos do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.

Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.

O processo de recuperação do material militar levou a uma investigação judicial em que foram detidos o agora ex-diretor da PJM.

No dia 12 de outubro de 2018, Azeredo Lopes apresentou a sua demissão do cargo de ministro da Defesa Nacional. Na base do pedido de demissão estiveram os desenvolvimentos do processo de investigação judicial ao desaparecimento e recuperação das armas furtadas nos paióis de Tancos.