“Isto é o símbolo maior de como o sistema está ruinoso e ineficaz e, num país civilizado, o primeiro-ministro demitir-se-ia e não se recandidatava às eleições”, afirmou André Ventura à Lusa à chegada a um jantar convívio com simpatizantes do partido, em Leça da Palmeira, Matosinhos, no distrito do Porto.
Dizendo ver todo este caso com “muita estupefação”, o também cabeça de lista por Lisboa às eleições legislativas de 06 de outubro considerou que o primeiro-ministro, António Costa, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deveriam dar explicações.
O mais grave, sublinhou, é que se aceite que ninguém dê as explicações que faltam, sobretudo quem sabia o quê e quem estava a par do quê.
“Temos um primeiro-ministro que quer fazer crer que o seu ministro da Defesa podendo saber disto nunca lhe transmitiria e um ministro da Defesa que já tinha feito crer que o seu gabinete sabia e ele não, temos aqui um encadeamento muito perigoso e duvidoso”, frisou.
Depois, continuou, “há um Presidente da República que, curiosamente, fala de todos os assuntos, mas que disse que não queria mais falar deste”.
Assumindo não ter elementos que lhe permitam dizer se Marcelo Rebelo de Sousa sabia ou não da encenação da recuperação do armamento, André Ventura referiu ser “muito estranho” que o Chefe de Estado estivesse “a leste de tudo isto”, depois de a acusação adiantar que o chefe da Casa Militar saberia de tudo.
“O chefe da Casa Militar saberia de tudo e não transmitiria ao Presidente da República uma coisa desta gravidade em que estava envolvido o poder soberano do Estado?”, questionou.
E acrescentou: “todos conhecemos o professor Marcelo. Gosta de estar a par de tudo, domina vários assuntos ao mesmo tempo e com grande profundidade e, no assunto Tancos, estaria à margem propositadamente pelo seu chefe militar? Acho muito estranho”.
Situação de Tancos à parte, André Ventura mostrou-se convicto de que o Chega vai eleger deputados, provocando uma “verdadeira revolução democrática”, mostrando-se indiferentes às sondagens.
“O parlamento nunca mais será igual e, desde logo, a nossa primeira proposta será reduzi-lo ao mínimo legal, assim como a justiça nunca mais será a mesma”, vincou.
Com o partido na Assembleia da República, o líder do Chega acredita que a oposição terá de dizer porque está contra uma e outra medida.
O furto de material de guerra foi divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017.
Quatro meses depois, a Policia Judiciária Militar (PJM) revelou o aparecimento do material furtado, na região da Chamusca, a 20 quilómetros de Tancos, em colaboração de elementos do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.
O Ministério Público (MP) acusou na quinta-feira 23 pessoas, entre elas o ex-ministro da Defesa, José Azeredo Lopes, no caso do furto e da recuperação das armas do paiol da base militar de Tancos.
Os arguidos são acusados de crimes como terrorismo, associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, abuso de poder, recetação e detenção de arma proibida.
O caso abalou as forças armadas, levou à demissão de Azeredo Lopes em 2018 e a polémica em torno do furto, tornado público pelo Exército em 29 de junho de 2017 com a indicação de que ocorrera no dia anterior, subiu de tom depois da, aparente, recuperação do material na região da Chamusca, no distrito de Santarém, em outubro de 2017, numa operação da Polícia Judiciária Militar (PJM).
Nove dos 23 arguidos são acusados de planear e executar o furto do material militar dos paióis nacionais e os restantes 14, entre eles Azeredo Lopes, da encenação que esteve na base da recuperação do equipamento.
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