“Nunca mais esquecerei o medo que senti. Ainda hoje, no final dos jogos, penso nesse dia. Tenho medo que isto volte a acontecer”, revelou o defesa central francês, de 36 anos, que foi ouvido como testemunha na décima sessão do julgamento da invasão à academia ‘leonina’, em 15 de maio de 2018, que decorre no Tribunal de Monsanto, em Lisboa.
O defesa central contou que estava no balneário quando entraram entre “20 a 30 pessoas”, apesar de o secretário técnico, Vasco Fernandes, ter tentado fechar a porta do vestiário, mas que “já era demasiado tarde”, pois os elementos encapuzados “forçaram” a entrada e aproximaram-se de alguns jogadores que foram agredidos.
“Vi o Marcus Acuña e o Misic a serem agredidos. O Acuña foi o primeiro que vi a ser agredido com golpes no rosto, por duas ou três pessoas que estavam de volta dele. Depois vi o Misic a ser agredido com um cinto, nas pernas e nas costas”, descreveu Mathieu.
O defesa central francês contou que havia “três pessoas em frente à porta” dos vestiários, os quais impediam a saída dos jogadores, que tiveram de ficar “dentro do balneário”.
A testemunha explicou que assim que entraram no vestiário, os elementos procuraram quatro jogadores: William Carvalho, Rui Patrício, Battaglia e depois Acuña.
Mathieu acredita que não era um dos alvos, pois não foi agredido, mas admitiu ter sentido “medo” no meio da “muita confusão e agitação” que presenciou.
Questionado por Miguel Fonseca, advogado de Bruno de Carvalho, um dos 44 arguidos no processo, Mathieu disse que “o [à data] médico Frederico Varandas, após a confusão” foi ao balneário ver os jogadores.
No domingo, 13 de maio de 2018, após a derrota com o Marítimo, por 2-1, que afastou os ‘leões’ da Liga dos Campeões, houve incidentes entre alguns jogadores do plantel e elementos da claque Juventude Leonina, no Aeroporto da Madeira.
O defesa central disse que “não respondeu” à interpelação destes adeptos, mas adiantou que “cada pessoa tem o seu caráter”, acrescentando que “houve colegas que responderam e que isso criou alguns momentos de tensão”.
“Considero-me inteligente demais para não responder a essas coisas, mas houve quem respondesse”, afirmou Mathieu ao coletivo de juízes, presidido por Sílvia Pires.
Em 14 de maio de 2018, véspera do ataque, houve uma reunião entre o plantel e elementos do Conselho de Administração, incluindo o então presidente Bruno de Carvalho.
O futebolista francês revelou que Bruno de Carvalho em reuniões anteriores se mostrou “agitado” com Rui Patrício e William Carvalho, mas que neste encontro “falou de forma calma e pousada”, dizendo que eram uma “família”.
Nessa reunião, o defesa central afirmou ainda que Bruno de Carvalho falou nos nomes do jogador Battaglia e do “chefe da claque”, quando se referiu aos incidentes no Aeroporto da Madeira.
O julgamento prossegue na terça-feira com as inquirições, de manhã, de Vasco Fernandes, secretário técnico, e à tarde com os jogadores Stefan Ristovski e Bruno Fernandes.
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