O ministro da Defesa, Grant Shapps, foi o primeiro ‘torie’ (conservador) a usar o termo, mostrando-se “realista” sobre a probabilidade de uma vitória expressiva do ‘Labour’ (Partido Trabalhista) nas eleições de 04 de julho, que poderá alcançar uma maioria absoluta histórica.
“Queremos ter a certeza de que no próximo governo, seja ele qual for, existe um sistema adequado de controlo”, afirmou Shapps à Times Radio no passado dia 12 de junho.
Na imprensa britânica de direita, o cenário foi exacerbado, com o jornal Daily Telegraph a alertar para uma possível “ditadura” se o líder trabalhista, e atual líder da oposição, Keir Starmer ganhar com uma grande vantagem.
Na origem deste pessimismo estão as várias sondagens publicadas nas últimas semanas com resultados catastróficos para o Partido Conservador, no poder há 14 anos e predominante nos últimos 100 anos.
A mais recente, divulgada na segunda-feira pela Focaldata e nas vésperas do último duelo televisivo entre o atual primeiro-ministro conservador Rishi Sunak e Keir Starmer, sugere que os trabalhistas estão a caminho de uma maioria superior a 200 deputados na Câmara dos Comuns (câmara baixa do parlamento do Reino Unido), elegendo 450 e os conservadores 110.
Neste estudo, os Liberais Democratas ascendem a 50 deputados, à frente dos 16 dos independentistas do Partido Nacional Escocês (SNP), os Verdes mantêm um lugar e o Partido Reformista outro.
Embora as principais empresas de sondagens apresentem números variáveis, todas anteveem uma liderança trabalhista de dois dígitos, com poucas alterações desde que Rishi Sunak convocou as eleições, em maio passado.
Segundo a Ipsos, os trabalhistas poderão ganhar 453 lugares e os conservadores 115, com uma maioria trabalhista de 256 deputados, a maior de sempre, mas outras sondagens são mais desfavoráveis aos ‘tories’.
Um estudo da YouGov publicado em 19 de junho projetou que o ‘Labour’ vai ganhar 425 assentos, enquanto os ‘tories’ de Rishi Sunak ficará com 108, perdendo 257 deputados em relação à atual composição do parlamento.
Por seu lado, a Savanta estimou em 516 o número de lugares que poderão ser conquistados por Keir Starmer, o dobro do resultado de Tony Blair em 1997, e quase 10 vezes os 53 lugares que projetou para os conservadores.
Este estudo das intenções de voto, publicado também em 19 de junho, antecipou a derrota de vários ministros e até de Rishi Sunak, algo inédito para um primeiro-ministro.
Em parte, os comentadores de direita têm alertado para um cenário de “apocalipse” do Partido Conservador, para evitar a fragmentação do voto da direita se eleitores desiludidos optarem pelo Partido Reformista (Reform UK, o antigo Partido do Brexit).
Liderado pelo antigo eurodeputado eurocético Nigel Farage, o Reform UK, fundado em 2019, não esconde a ambição de comandar a oposição à direita, mesmo que isso pareça improvável.
O sistema de votação de maioria simples, ou na designação em inglês “first past the post”, determina que ganha o candidato que obtenha mais votos na respetiva circunscrição eleitoral, modelo que tende a favorecer os maiores partidos.
Por enquanto, apenas duas sondagens deram um ponto percentual dos reformistas à frente dos conservadores.
Embora a sondagem da Savanta não atribua qualquer deputado aos reformistas, a YouGov estimou que o partido possa ganhar cinco lugares.
Mas o segundo maior beneficiário do desmoronamento do Partido Conservador poderá ser o Partido Liberal Democrata, que tanto a Savanta como a YouGov anteveem como futura terceira força política no parlamento britânico, à frente do SNP.
Comentários