O documento, que será apresentado a propósito do Dia Mundial do Pulmão, que hoje se assinala, contou com a participação de peritos de várias áreas relacionadas com o diagnóstico e tratamento do cancro do pulmão, incluindo pneumologistas, radiologistas, oncologistas, cirurgiões torácicos, especialistas em Saúde Pública e em Medicina Geral e Familiar.
Em declarações à Lusa, o presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), António Morais, sublinhou a importância do diagnóstico precoce, num cancro que tem cerca de 5.000 novos diagnósticos/ ano e provoca 4.500 mortes anuais em Portugal.
O responsável frisou que o combate deve ser feito em duas frentes: rastreios para ter um diagnóstico mais rápido e políticas que apostem na luta contra o tabagismo.
“Este duplo caminho é o que temos [de fazer] para efetivamente diminuir este drama relacionado com o cancro do pulmão”, afirmou.
António Morais lembrou que as tentativas de programas de rastreio com radiografia “nunca mostraram evidência do seu benefício” e explicou que, recentemente, o rastreio com TAC (Tomografia Computorizada) de baixa dose “mostrou um benefício significativo, com deteção precoce de lesões”, o que levou, nalguns casos, a uma diminuição da mortalidade em 20 a 25%.
Num artigo publicado no Pulmonology Journal, os peritos portugueses fazem uma série de recomendações para a concretização de um programa de rastreio de cancro do pulmão em Portugal, que consideram ser “uma necessidade urgente” no país.
A idade (dos 50 aos 75 anos), os hábitos tabágicos (ser fumador ou ter deixado de fumar há menos de 15 anos) e a carga tabágica (mais de 20 maços de tabaco por ano) são os critérios de elegibilidade para o programa de rastreio.
Recomendam que se faça rastreio todos os anos a esta população e defendem que a combinação dos rastreios com a cessação do tabagismo “é crucial para aumentar a adesão à triagem e melhorar a relação custo-eficácia”.
“Ao fazer TAC anualmente consegue-se detetar um número maior de lesões que são passíveis de ser ressecadas cirurgicamente e que têm potencial curativo”, explica António Morais.
No caso dos resultados positivos, os peritos traçam uma série de recomendações de seguimento e tratamento, consoante o grau de risco do tumor detetado, sugerindo que o programa possa avançar com um projeto-piloto.
Questionado sobre como chegar a esta população, admitindo que muitos não têm médico de família, António Morais disse que os centros de saúde, que já hoje informam quem está dentro dos respetivos critérios para os rastreios de outros cancros, podem fazer esse contacto com os utentes.
Referiu que não há muitos países na Europa com rastreios nacionais ao cancro do pulmão, mas apontou os exemplos de alguns que mostram resultados, como a Republica Checa, Polónia e Croácia.
O documento de consenso com as recomendações envolveu especialistas da SPP, da Sociedade Portuguesa de Radiologia e Medicina Nuclear (SPRMN), da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) e do Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (GRESP).
Contou ainda com a colaboração de elementos da Sociedade Portuguesa de Anatomia Patológica (SPAP), da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Cardíaca, Torácica e Vascular (SPCCTV), da Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP) e da Respira – Associação Portuguesa de Pessoas com DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica).
O anterior ministro da Saúde, Manuel Pizarro, tinha anunciado o alargamento dos rastreios ao cancro do pulmão, mas o projeto nunca avançou.
A Lusa questionou o Ministério da Saúde sobre esta matéria, mas não obteve resposta.
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