No início da apresentação pública da sua candidatura, num hotel no Porto, Rio lamentou “uma incompreensível tendência autofágica, divisões internas que o bom senso aconselharia a evitar”.
“Estamos mais perto de ganhar ao PS e eu não quero ter a responsabilidade de ver essa oportunidade destruída. Por isso, perante os militantes do meu partido e perante os largos milhares de portugueses que, em mim e no PSD, depositam a sua esperança, eu tenho a obrigação de me recandidatar”, justificou.
Numa intervenção inicial de cerca de quinze minutos, Rio voltou a lamentar que o partido tenha marcado já o seu calendário interno - diretas em 04 de dezembro e congresso entre 14 e 16 de janeiro - antes de saber se o Orçamento do Estado é aprovado, considerando que tal “constituiu um aventureirismo que a sensatez prudentemente evitaria”.
“Penso, no entanto, que, apesar destes aspetos negativos - que em nada são da minha responsabilidade - os portugueses não entenderiam uma não recandidatura do líder (…) Sinto que seria muito prejudicial para o partido e, principalmente, para Portugal, se o PSD mudasse de presidente, no justo momento em que o povo deu sinais visíveis de uma grande abertura para votar no PSD, iniciando uma clara inversão do atual ciclo político”, afirmou.
Rio começou por recordar os resultados do partido nas recentes autárquicas, considerando que foram alcançados “contra quase tudo e quase todos”.
“Ganhar as próximas eleições legislativas e substituir a governação socialista está, hoje, seguramente, bem mais perto de nós, como todo o partido e todo o país soube reconhecer. Compete-nos, agora, saber também aproveitar a dinâmica de vitória”, defendeu, considerando que só falta ao PSD cumprir “a última etapa” que será “ganhar as eleições legislativas”.
O líder do PSD reiterou que serão os militantes que “livremente devem escolher o seu presidente” e não as estruturas dirigentes nacionais ou locais.
“O PSD tem de ser um partido de homens e mulheres livres, não pode ser uma coutada seja de quem for, muito menos de quem, tantas vezes, se move essencialmente pela defesa do seu lugar pessoal”, alertou.
O presidente do PSD e recandidato ao cargo defendeu hoje que nas próximas eleições diretas do partido se vai escolher “o próximo primeiro-ministro”, deixando críticas implícitas ao seu adversário Paulo Rangel.
“Não estamos perante a escolha de um bom tribuno, nem de um eficaz angariador de votos partidários. Estamos perante a responsabilidade da escolha de alguém que tenha capacidade de resiliência, coerência de percurso, experiência e vocação executiva, e inequívocos atributos de liderança”, afirmou.
Para Rio, “o que está verdadeiramente em causa é a escolha do principal governante de Portugal”.
“De alguém que os portugueses reconheçam com o perfil adequado ao exercício do cargo que vai estar em disputa entre o Partido Social Democrata e o Partido Socialista”, sublinhou.
"Quando me picam eu vou melhor. E eu estou picado"
O presidente do PSD admitiu ainda que vai ter de se conter nos debates com o adversário porque está “picado” e lembrou tudo ter feito para agregar o partido e acusando de mentir quem diz o contrário.
“Tenho de me conter um bocadinho porque quando me picam eu vou melhor. E eu estou picado”, afirmou Rui Rio, recandidato à liderança do PSD, aos jornalistas quando questionado sobre se estará disponível para debates com o adversário Paulo Rangel.
Após um discurso de 15 minutos, com muitas pausas devido às palmas que o interrompiam numa sala cheia de um hotel do Porto, onde decorreu a apresentação pública da sua candidatura, Rui Rio acusou os que dizem que não quis agregar o partido de faltarem à verdade. “Como vou resolver as divisões internas? Seguramente não em período pré-eleitoral, mas em período pós-eleitoral. Vou ter a mesma atitude que tive até aqui porque quando dizem que não quero agregar, sabem que é mentira, e eu detesto a mentira e a hipocrisia”, acentuou.
“Eu, a partir da primeira eleição tive um adversário, o doutor Santana Lopes, e a primeira coisa que fiz foi convidá-lo para encabeçar o Conselho Nacional, a segunda coisa foi convidar Paulo Rangel para número dois dessa lista, que não me tinha apoiado nessa altura, a terceira foi convidar para líder parlamentar o doutor Negrão, que tinha sido mandatário de Pedro Santana Lopes, e a quarta foi convidar como cabeça de lista ao Parlamento Europeu Paulo Rangel”, recordou.
E, portanto, o social-democrata reforçou que “tudo fez” para agregar, acrescentando que só pode agregar quem quer ser agregado.
Uma recandidatura perante adversário com "pior resultado da história" do partido
O presidente do PSD assumiu que não podia dar um passo atrás quando o seu adversário teve o "pior resultado da história" do partido, referindo-se às eleições europeias de 2019.
“Não fazia sentido que eu não me recandidatasse quando conduzi o partido a estes êxitos [referindo-se às eleições autárquicas de setembro], é evidente que não ia dar um passo atrás, principalmente quando o adversário que tenho teve o pior resultado da história do PSD [eleições europeias de 2019 em que Rangel foi cabeça-de-lista]”, afirmou Rui Rio.
Imediatamente a seguir a esta afirmação, num momento dedicado a perguntas de jornalistas e após um discurso de 15 minutos, ecoaram palmas e gritos “Rio vai em frente, tens aqui a tua gente”.
Quando falou no pior resultado da história do PSD, o social-democrata aludia às eleições europeias de 2019, em que Paulo Rangel era cabeça-de-lista.
Sem nunca referir o nome de Paulo Rangel, nem sequer quando instado a comentar a candidatura à liderança do PSD do eurodeputado, o social-democrata considerou que o partido está a “correr um risco que era desnecessário”.
Para, de seguida, questionar: “as eleições legislativas serão em janeiro se o orçamento não passar, então não era mais prudente ver se o orçamento passava ou não e depois marcávamos as nossas eleições diretas?”.
Não dava o PSD ao país um sinal de “muita mais calma, responsabilidade e maturidade”, perguntou ainda.
Rui Rio, que foi contantemente interrompido pelas palmas, vincou que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já tem a sua posição “fixa e definida” caso o Orçamento de Estado para 2022 for chumbado, ou seja, as eleições legislativas acontecerão em janeiro.
“Ele disse querer que o orçamento passe e que haja estabilidade, mas se não passar temos eleições legislativas em janeiro, ele disse isso, justamente horas antes do nosso Conselho Nacional”, afirmou.
O social-democrata vincou que o Presidente da República não tem de atender aos partidos, mas sim aos interesses nacionais e “muito bem”.
Entre os muitos presentes na sala, que estava muito preenchida, obrigando mesmo alguns a ficarem de fora, estavam o líder parlamentar, Adão Silva, o secretário-geral, José Silvano, o novo presidente da Assembleia Municipal do Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, e os deputados Maló de Abreu e Hugo Carvalho.
Rui Rio foi eleito pela primeira vez presidente do PSD em 13 de janeiro de 2018 com 54% dos votos contra Santana Lopes e reeleito em 2020 com 53%, numa inédita segunda volta contra Luís Montenegro.
Nas últimas diretas, no Porto (maior distrital do PSD), Rui Rio - que aqui foi presidente da Câmara durante 12 anos - conseguiu 64% dos votos contra Luís Montenegro na segunda volta.
O PSD vai realizar eleições diretas para escolher o presidente no dia 04 de dezembro e o 39.º Congresso decorrerá entre 14 e 16 de janeiro, em Lisboa, e até agora apresentaram-se como candidatos Rui Rio e Paulo Rangel.
(Artigo atualizado às 21:45)
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