O Intercept iniciou no passado domingo uma série de reportagens sobre a operação Lava Jato publicando textos com mensagens e conversas privadas entre promotores e juízes brasileiros na aplicação Telegram, denunciadas por uma fonte anónima, que apontariam para a falta de imparcialidade e provas de colaboração ilegal na maior operação contra a corrupção do Brasil.
Num comunicado enviado à imprensa na madrugada de hoje, a ‘task-force’ da Lava Jato afirmou que as reportagens são fruto de uma publicação "tendenciosa e indica o intuito de atacar a operação".
"Nenhum pedido de esclarecimento ocorreu antes das publicações [das reportagens do Intercept], o que surpreende e contraria as melhores práticas jornalísticas", lê-se no comunicado da Lava Jato.
"Além disso, é digno de nota o viés tendencioso do conteúdo divulgado, o que é um indicativo que pode confirmar o objetivo original do ‘hacker’ [pirata informático] de, efetivamente, atacar a operação Lava Jato, aspeto reforçado pelo facto de as notícias estarem sendo divulgadas por site com nítida orientação ideológica", acrescentou.
Os procuradores da Lava Jato também alegaram "preocupação com possíveis mensagens fraudulentas ou retiradas do devido contexto" nas reportagens.
Já o ministro Sérgio Moro divulgou na rede social Twitter e no portal de notícias O Antagonista uma nota no domingo, defendendo-se das alegações sobre supostos desvios da sua conduta quando era juiz responsável pela maioria dos casos da operação Lava Jato em primeira instância.
"Sobre supostas mensagens que me envolveriam publicadas pelo site Intercept neste domingo, 9 de junho, lamenta-se a falta de indicação de fonte de pessoa responsável pela invasão criminosa de celulares de procuradores. Assim como a postura do site que não entrou em contacto antes da publicação, contrariando regra básica do jornalismo", escreveu Moro.
"Quanto ao conteúdo das mensagens que me citam, não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do sensacionalismo das matérias, que ignoram o gigantesco esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato", acrescentou.
O Intercept revelou que Moro terá sugerido ao procurador Deltan Dallagnol que alterasse a ordem das fases da operação Lava Jato, deu conselhos, indicou caminhos de investigação e deu orientações aos promotores encarregados do caso, ou seja, ajudou a acusação, o que viola a legislação brasileira que exige imparcialidade aos juízes.
A acusação contra Lula da Silva, condenado e preso num caso da Lava Jato sobre a posse de um apartamento de luxo no Guarujá também foi citada pelas reportagens do Intercept.
Segundo aquele portal de investigação, mensagens indicam que os próprios promotores da Lava Jato tinham sérias dúvidas sobre a qualidade das provas contra o ex-Presidente neste processo.
Já a "task-force" da Lava Jato, alegou que esta informação não está correta porque "apenas oferece acusações quando presentes provas consistentes dos crimes" e que as supostamente mensagens trocadas entre os procuradores não indicaram uma hesitação.
"Antes da apresentação de denúncias são comuns debates e revisões sobre fatos e provas, de modo a evitar acusações frágeis em prejuízo aos investigados. No caso Triplex [apartamento de luxo atribuído à Lula da Silva], a prática dos crimes de corrupção e branqueamento de capitais foi examinada por nove juízes em três instâncias que concordaram, de forma unânime, existir prova para a condenação", defendeu o órgão de Justiça brasileiro.
Noutras conversas reveladas pelo Intercept, um grupo de promotores da Jato Lava discute formas de impedir uma entrevista que Lula da Silva deveria dar ao jornal Folha de São Paulo alegando que a mesma poderia beneficiar o Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições.
Neste ponto o comunicado da Lava Jato alegou que não houve irregularidade porque "a prisão em regime fechado restringe a liberdade de comunicação dos presos, como já manifestado em autos de execução penal, o que não se trata de uma questão de liberdade de imprensa".
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