Depois de ter encerrado mais de 60 balcões em 2020, o banco Santander prevê ainda fechar perto de 30 agências este trimestre. Segundo uma carta enviada hoje aos colaboradores do banco, a que a Lusa teve acesso, a decisão resulta de uma adaptação a um modelo de negócio que diz obrigatória para conseguir sobreviver.
A Comissão Executiva, que assina a carta, começa por justificar o envio da nota "face a notícias recentes que envolvem o banco", numa alusão aos apelos dos sindicatos para que seja suspenso o processo em curso, dado o agravamento da pandemia.
Recorde-se que a 19 de janeiro o banco já tinha sido levado a esclarecer que não vigoraria “qualquer processo de rescisões por mútuo acordo”, mas sim um modelo de propostas de pré-reforma ou de revogação de contratos de trabalho.
"O Banco Santander é reconhecido desde há vários anos como o mais sólido Banco de Portugal. Nos últimos cinco anos, integrámos o Banif e o Banco Popular, o que provocou uma sobreposição de balcões e de serviços, quer na rede comercial, quer nos serviços centrais", é de seguida lembrado.
Para além destas integrações, o banco diz que tem concentrado "os esforços e investimento em acompanhar a era da digitalização" que se vive no momento, "com uma redução progressiva de balcões, redefinição funcional de outros, e a automação crescente de processos e funções ao nível dos serviços centrais".
Ao mesmo tempo "tem adaptado" o modelo de negócio "a novas variantes da atividade bancária e às diferentes exigências e níveis de concorrência", sublinhando tratar-se de um contexto de transformação "obrigatório para todos os bancos que queiram sobreviver no futuro, especialmente no contexto de forte compressão de receitas" que se vive e "tendo presente o aumento da concorrência com a entrada de novos agentes (Fintechs e BigTechs) e a alteração radical do comportamento dos clientes" bancários.
"Nos últimos anos, a rentabilidade dos bancos foi constrangida por diversos fatores que são por todos conhecidos, com destaque para a exigência de níveis de capital mais elevados (de 2008 para hoje, o aumento do capital regulatório mínimo de 8% para 12,5% implicou, no caso do Santander Totta, a necessidade de mais 750 milhões de euros de capital para simplesmente poder operar), a existência e persistência de taxas de juro negativas, e generalizadas limitações a comissões", explica a Comissão Executiva.
Em termos nacionais, a gestão aponta também, como condicionante, o "custo que o banco tem com a resolução de outros bancos e outras taxas setoriais, que ascende hoje a mais de 74 milhões de euros/ano".
O Santander adiciona a estas explicações "as atuais exigências dos clientes" com os serviços digitais e níveis de disponibilidade permanentes dos serviços bancários. "No último ano, as vendas em canais digitais por cliente ativo aumentaram significativamente; tem vindo a descer sucessivamente, ano após ano, o número de clientes que visitam um balcão (29% em dois anos), bem como os novos clientes captados por este canal (22% em dois anos), num movimento que se manterá crescente nos próximos anos", acrescentam.
E é neste quadro que o banco reafirma que tem vindo a fazer "desde há vários anos", propostas de "acordos de saída (reforma ou revogação de contrato) a muitos colaboradores dos serviços centrais e da área comercial, diretivos e não diretivos".
Um fenómeno que, reforça, é "comum a todo o setor bancário". O grupo, tal como os "internacionais, tem vindo a concretizar a transformação do modelo de negócio nos países europeus em que opera", nomeadamente "com redimensionamentos" nas suas filiais de Espanha, Polónia, Portugal e Reino Unido.
"Como anteriormente, durante o ano de 2020, o contacto com os colaboradores manteve-se, agora com necessária predominância de propostas de acordos de revogação, apresentando o banco a cada colaborador as melhores condições do setor e ímpares na nossa economia, assegurando ainda uma rede de acompanhamento futuro a cada colaborador que saia do banco, que incluirá, entre outras, assessoria à recolocação profissional, apoio social, garantias de saúde, a par de manutenção de muitas das condições de que beneficiam os colaboradores do Banco", garante.
Deste modo, a Comissão Executiva admite que este ajustamento vai continuar durante 2021, "em linha com o encerramento de balcões e redimensionamento de serviços centrais", referindo que o banco "fechou mais de 60 balcões em 2020, e tem estimado encerrar cerca de 30 agências durante este trimestre, estando previsto implementar durante este ano diversas automações e alterações de processos nos serviços centrais, de forma crescente".
Assim, neste contexto o Santander diz que procurará que as saídas de colaboradores "sejam feitas de comum acordo", "privilegiará sempre que possível as aceitações voluntárias a processos unilaterais e formais", tendo "sempre em consideração o contexto individual de cada colaborador e o contexto coletivo dos tempos atuais".
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