
Em declarações aos jornalistas na Feira do Livro de Lisboa, onde apresentou o seu novo livro, “Hipocritões e Olhigarcas”, com o humorista Ricardo Araújo Pereira, Rui Tavares considerou que a instabilidade política que se tem vivido em Portugal nos últimos anos — nenhum Governo cumpriu a legislatura desde 2019 — tem beneficiado os partidos que apresentam “propostas que assentam no ressentimento das pessoas”.
“Acho que há um diálogo a fazer, espero eu, agora, com alguma estabilidade política no nosso país, que também envolva outros setores da sociedade [para combater esse fenómeno]. Aquilo que, por exemplo, passa pela comunicação social não deve ficar de fora deste diálogo”, defendeu.
Rui Tavares observou que o Livre cresceu nas eleições legislativas de 18 de maio e o partido foi considerado um vencedor pela comunicação social, “mas a verdade é que, depois das eleições, não houve praticamente uma entrevista de fundo que nenhum dirigente do Livre desse”.
“Olhamos para a extrema-direita que, percentualmente, à proporção, até cresce menos do que o próprio Livre e está o tempo todo nos meios de comunicação social. E eu recuso-me a achar que não se possa falar deste tema ou que seja um tema incómodo porque as editorias e as direções das televisões, de certa forma, são envolvidas nesse debate”, disse.
Pelo contrário, prosseguiu, o que se verifica “é que a extrema-direita ataca a imprensa e os jornalistas todos os dias, e todos os dias é beneficiada, mesmo quando a extrema-direita tinha apenas um deputado único”.
“Não vale a pena fazer uma reflexão acerca disto?”, perguntou, acrescentando que o diz de uma “forma que não é agressiva”, nem “menospreza o trabalho que a imprensa tem”.
“Mas, que diabo, quando um partido que é dado como vencedor das eleições depois não é ouvido, as suas iniciativas não são cobertas, não há entrevistas que sejam feitas aos seus dirigentes… Basicamente é porque estamos a beneficiar aqueles que vão acabar por destruir o nosso regime”, defendeu.
Para Rui Tavares, “a primeira coisa que toda a gente deveria fazer, o Presidente da República, outros partidos políticos, comunicação social, a sociedade em geral é, para derrotar a extrema-direita, em primeiro lugar, não a ajudar”.
“E ela tem sido tão ajudada nos últimos anos”, lamentou.
Depois de, na apresentação do seu livro, ter defendido que a melhor maneira de combater a extrema-direita é “captar a atenção”, Rui Tavares foi questionado sobre como é que tenciona captar essa atenção se considera que há um terreno desequilibrado na cobertura política da comunicação social.
O dirigente do Livre respondeu que o seu partido procura captar a atenção “pessoa a pessoa”, apresentando propostas “muito concretas, que mobilizam a imaginação e o entusiasmo” e que procuram ser universais, sem excluir ninguém.
“É isso que a esquerda tem de fazer para captar a atenção das pessoas e, depois, é verdade que, se o plano de jogo, o terreno de jogo não nos é favorável, bem, temos de criar o nosso próprio terreno de jogo”, considerou.
Sobre os discursos feitos nas comemorações do dia 10 de Junho, em Lagos, pelo Presidente da República e pela escritora Lídia Jorge, Rui Tavares destacou a ideia de que Portugal se constrói “através da solidariedade, da entreajuda, daquilo que faz de Portugal um Portugal melhor”.
“Contra aqueles que querem que Portugal seja construído através da divisão e do ódio, puxando pelos rancores e pelos ressentimentos que às vezes são o pior que nós temos e, acima de tudo, não nos fazem avançar”, disse.
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