No distrito transmontano não há praias fluviais com bandeira azul, mas há muitos locais que servem de refúgio nos dias de maior calor, uns acessíveis outros selvagens e de acesso mais difícil.
Por esta altura, os habitantes locais cruzam-se nas estradas e nos trilhos com os muitos emigrantes que estão de regresso à terra natal e com turistas nacionais ou estrangeiros.
Um dos locais mais procurado fica no Parque Natural Alvão, entre Vila Real e Mondim de Basto. As Piocas de Cima antecedem as Fisgas de Ermelo, um das maiores quedas de água da Península Ibérica, e são pequenas lagoas de água límpida e fresca escavadas na rocha pelo rio Olo.
É preciso deixar o carro num parque de estacionamento improvisado na serra e descer um trilho sinuoso até chegar às piocas, onde, entre gigantescas rochas, o rio Olo cai em pequenas cascatas para as lagoas.
Não há areia, relva ou terra e as toalhas estendem-se pelas pedras duras que servem também de pranchas para os banhistas se atirarem à água.
O espanhol Rodrigo Núñez está de férias com a mulher, dois filhos e dois cães e foi parar às piocas sem querer.
“O parque é muito bonito e descobrimos as lagoas por casualidade. Vimos pessoas a descer, resolvemos vir atrás e encontramos esta maravilha, muito bom para passar estas horas de calor”, afirmou à agência Lusa.
A família veio de Madrid numa autocaravana. De França também com a família e amigos veio Filomena Maria, natural de Mondim de Basto.
“Conheço este espaço desde pequenina. Isto sabe muito bem para tomar banho nestes dias de calor. Aqui estamos-se em paz, sossegados. Para mim é melhor que uma praia”, salientou.
A emigrante referiu que o mais difícil foi descer, principalmente para os amigos franceses que nunca ali tinham estado. Às vezes até as pernas tremem com o receio da encosta íngreme e de pedras soltas.
Paula Magalhães, natural de Celorico de Basto e emigrante na Suíça, conhece as lagoas há alguns anos e disse que costuma vir todos os anos com a família.
“É sossegado, tranquilo, respira-se ar puro e nós gostamos muito. A descida é que é complicada, principalmente com as crianças, mas, devagarinho, chega-se bem”, salientou.
Neste espaço criado pela natureza ao longo de muitos e muitos anos ouvem-se várias línguas: português, francês, inglês, espanhol. A maior parte dos banhistas parece ser estrangeira e ali até chegou um grupo de holandeses que queria ir visitar o Parque Nacional da Peneda-Gerês.
Já ao descer da serra para a cidade de Vila Real, uma família de Viana do Castelo aproveitou a cascata de Galegos da Serra para fazer um piquenique e ir refrescar-se na água fresca da ribeira.
Uma pequena lagoa e quedas de água são o cenário que se encontra depois de descer por um trilho de terra e de degraus de pedra.
“Pesquisei por cascatas na internet e encontrei esta, perto da estrada e achei que era ótimo para nós. Com o calor que está isto é do melhor, a água está boa, um bocadinho fresquinha ao entrar, mas depois está ótima”, afirmou Nelson Ribeiro, emigrante em França.
A mãe Libânia Ribeiro, que vive em Viana do Castelo, lamentou não conseguir descer pelas fragas para ir à água refrescar-se. “Está muito calor, mas não tenho coragem, tenho medo de escorregar”, salientou.
Jéssica Nunes e os amigos vivem na aldeia de Sirarelhos e costumam passar as tardes quentes na cascata. Já estão habituados a partilhar o espaço com gente de fora que ali vai chegando. “A água é fresca e é funda, ótima para o banho”, referiu a jovem.
Junto a Vila Real, nas Flores, uma pequena represa no rio Corgo serve de praia para quem vive na cidade ou aldeias próximas.
Cláudia Madureira disse que, neste verão, esta é apenas a segunda vez que vem ao rio das Flores por causa do tempo incerto. “É um sítio agradável para estar, tem aqui este bocado de areia que dá para estender a toalha”, referiu.
Susete Tavares aproveita os dias de folga para ir ao rio com o filho e amigos. “A água é quentinha e é segura para os meninos, aqui podem andar à vontade”, salientou.
Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), a temperatura vai subir de forma acentuada em Portugal continental a partir de hoje, mantendo-se muito elevada até ao fim de semana, com os avisos laranja a passarem a vermelhos (o nível mais grave) a partir de quinta-feira à manhã de sábado.
Os distritos abrangidos pelo aviso vermelho por causa da persistência de valores elevados da temperatura máxima são Bragança, Évora, Guarda, Vila Real, Santarém, Beja, Castelo Branco, Portalegre e Guarda.
O IPMA adverte que as temperaturas máximas vão estar "muito acima dos valores normais para a época", próximas dos 40ºC, com exceção da costa sul do Algarve, onde serão entre os 30 e os 35ºC.
No interior do Alentejo, Vale do Douro e do Tejo e Beira Baixa, a temperatura máxima deverá atingir valores da ordem dos 45°C, "podendo ser alcançados máximos absolutos em vários locais".
Os valores da temperatura mínima, de acordo com o IPMA, têm igualmente tendência para uma subida gradual, "atingindo no final da semana valores próximos de 25°C em grande parte do território, aproximando-se dos 30°C em alguns locais do interior Centro e Sul, em especial no Alto Alentejo".
O sul do território continental poderá ser afetado a partir de hoje, também, por poeiras em suspensão provenientes do norte de África.
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