Uma enorme tenda transparente foi montada à entrada do Pavilhão Paz e Amizade, em Loures, com dois mini-bares, uma bagageira, as barraquinhas de credenciação. Nas portas do edifício há postos de verificação dos delegados e porteiros, protegidos por acrílicos e dispensadores de gel desinfetante, e ninguém está sem máscara.

“Penso que é fundamental [congresso]. É um espaço de trabalho, onde o partido se junta ao fim de muitas outras reuniões e define as orientações e linhas para o futuro. Mais do que ninguém, temos estado preocupados com as medidas efetivas, provando que é possível continuar a vida em segurança”, disse à Lusa a professora de 43 anos Patrícia Gonçalves, habitante da autarquia presidida pelo comunista Bernardino Soares.

Esta delegada está entre os cerca de 600 participantes no primeiro de três dias de trabalhos da muito criticada reunião-magna comunista. Sobretudo os partidos à direita revoltaram-se contra o facto de existirem restrições à circulação tão duras, devido à pandemia, e o PCP poder realizar um evento com esta magnitude.

“A pandemia não pode fazer parar os direitos dos trabalhadores, não nos pode meter em casa como cordeirinhos, a deixar de ter contacto com as pessoas. Estamos a fazer um congresso com todas as medidas que a Direção-Geral da Saúde nos impôs. Está tudo a correr muito bem. O PCP é um partido com 100 anos de luta e tem demonstrado estar sempre ao serviço do povo e dos trabalhadores”, garantiu a militante Olga Santos.

Com 68 anos, esta administrativa reformada de Setúbal ajudou na montagem das infraestruturas e, como muitos outros delegados e pessoal dos “serviços”, “apoio” ou “controlo”, vai pernoitar este fim-de-semana no recinto comunista das quintas da Atalaia e do Cabo da Marinha, Seixal, onde se faz a anual Festa do “Avante!”.

Outra opção muito comum entre os comunistas é a dormida em casa de “camaradas”, como o arquiteto Diogo Silva, 31 anos, que veio do Porto graças aos transportes também organizados pelo PCP e chegou à Grande Lisboa de véspera.

“Num tempo como este, é absolutamente essencial que a democracia não seja adiada e os partidos possam tomar posição sobre os direitos dos trabalhadores, que estão a ser postos em causa. Não é menos relevante o trabalho político em relação ao trabalho que as pessoas continuam a fazer este fim-de-semana: as indústrias, profissionais da segurança, transportes públicos. O país não pode parar”, afirmou.

A educadora de infância Vera Vieira, de 45 anos, planeia ir dormir sempre a casa, em Sesimbra.

“Tínhamos de o fazer. O congresso é um marco importante. É onde vamos estruturar as linhas orientadoras para os próximos anos. Está tudo a ser feito na mais perfeita segurança. Tomámos todas as precauções e normas exigidas antes, durante e depois. Vai correr tudo bem”, assegurou.

O professor de Educação Física aposentado Rui Oliveira, 67 anos, veio de Lisboa para a “tarefa” de servir cafés e águas no espaço exterior onde os participantes podem fazer uma pausa nos trabalhos, tomar uma bebida ou fumar um cigarro.

“Concordo com o congresso, assim como com a Festa [do Avante!, em setembro]. Foi uma demonstração de que, quando as coisas são feitas com o máximo cuidado e seguindo as regras sanitárias, tudo é possível fazer, a bem do país e das pessoas. As polémicas sobre as realizações do PCP vêm de há muitos anos e terminam praticamente no dia a seguir. Têm apenas o sentido de alguma perseguição política”, declarou.

Para resolver o problema das refeições, em virtude do recolher obrigatório a partir das 13:00 de sábado e do fecho dos estabelecimentos de restauração, o PCP reservou a vizinha Escola Secundária António Carvalho Figueiredo como “refeitório” para os delegados, enquanto os elementos da organização vão comer nas instalações próximas dos Bombeiros Voluntários de Loures.

Por: Hugo P. Godinho da agência Lusa