Trinta e dois voluntários portugueses estiveram nos últimos meses a apoiar refugiados em Atenas e na ilha de Lesbos, na Grécia, uma iniciativa da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) e sobre a qual foi feito um balanço, em Lisboa.
Rui Marques, coordenador da PAR, lembrou, em declarações à Lusa, que os refugiados que estão na Grécia (24 mil deles crianças) não podem regressar aos países de origem, porque estão em guerra, mas também não têm um país de acolhimento, pelo que vivem “em grande angustia e desespero”.
E sobretudo, acrescentou, para os refugiados afegãos, que, ao contrário de sírios e iraquianos, não podem ser aceites no programa de recolocação, “por uma questão meramente administrativa”.
Rui Marques lembrou que no Afeganistão não há segurança e disse que nos campos da Grécia estão muitos afegãos desesperados. “O maior perigo para a Europa, para a segurança da Europa, para a fidelidade da Europa aos seus valores, é não dar uma resposta a estas pessoas, não ser capaz de as acolher”, alertou.
Paula Ferreira, uma voluntária que esteve nos últimos meses na ilha de Lesbos, onde trabalhou essencialmente com crianças, descreve assim o problema: “conhecemos casos de pessoas que chegaram a 20 de março e estão à espera de poder formular o pedido de asilo, estão ali num vazio legal, não sabem como, quando, onde, o quê, não sabem nada”.
À Lusa explicou ainda que, apesar de alimentação aos refugiados, falta quase tudo e que às ilhas gregas se notou um aumento de chegadas de refugiados nos últimos meses, onde todos vão ficando “presos”, porque “não há escoamento”.
“São pessoas em situação de espera muito prolongada. Há um passado ao qual não vão voltar e há um futuro que é imprevisível. Têm duas entrevistas para serem recolocados noutro país e há pessoas que têm a primeira entrevista para daqui a seis meses”, relatou Inês Viterbo, outra voluntária, uma advogada do Porto, de 25 anos.
Diz Inês que as autoridades gregas fazem o que podem e que os gregos são muito solidários, mas que “há falta de recursos”, a mesma ideia que defendeu Rui Marques, quando disse que “o sistema tem de ser mais rápido” e lembrou que a Portugal chegaram muito menos refugiados do que aqueles que o país está disposto a receber.
Por agora, a PAR está na “linha da frente” e vai lá ficar mais seis meses, a ajudar pessoas “sem esperança, sem passado e sem futuro”. Mariana Barbosa, uma das coordenadoras da missão da PAR na Grécia, fala do “brilho de esperança” que deixou de ver nos olhos das pessoas.
O brilho no olhar que não lhe falta a ela nem a Miguel Oliveira ou Tiago Marques, outros coordenadores das missões, quando falam do trabalho em Atenas ou em Lesbos, o ensino e apoio psicossocial em Kara Tepe (Lesbos), mas também o desporto ou o cinema.
Ou o novo projeto de envolver os refugiados em ações para outros refugiados, como conta a Sofia, diretamente de Lesbos, o mesmo brilho dos coordenadores ou da voluntária Inês, quando fala do campo de Eleonas, em Atenas.
Assim, dito por Inês de um folego: “Levávamos 100 meninos do campo de Eleonas para uma escola e lá tinham aulas de inglês, matemática, grego, desporto, artes, e atividades, mas sobretudo ensinávamos os meninos a gerir emoções, impulsos, a conviverem uns com os outros, a dialogarem e a brincar como é suposto uma criança brincar, a aprender como é suposto uma criança aprender. É uma beleza retirar meninos de um campo de refugiados, levá-los para uma escola e proporcionar-lhes normalidade, como as crianças devem ter”.
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