O Tribunal Distrital do Broye e Nord Vaudois tem estado a julgar um dos casos mais sangrentos dos últimos anos. O autor da tragédia, natural de Santa Maria da Feira, pedreiro de profissão, vivia na Suíça desde 2006 com a sua família.
O português é acusado de ter alvejado a sua mulher e o seu filho mais velho, em Payerne, em 25 de Abril de 2018, após uma violenta discussão.
Questionado pelo presidente do tribunal, na audiência de 16 de agosto, o português reconheceu "desentendimentos" com a sua mulher, mas assegurou que não imaginava que poderia ter-se transformado em tal "barbaridade".
O emigrante negou ainda ter ido na noite do crime ao apartamento da mulher, de quem vivia separado há cerca de um ano, para a matar. No entanto, o homicida não conseguiu explicar os motivos pelos quais estava munido de uma arma carregada e um segundo carregador no dia do crime.
A mulher do acusado, também portuguesa, vivia com os seus dois filhos, de 13 e 18 anos, num apartamento no centro da cidade de Payerne. A vítima tinha deixado a casa familiar em setembro de 2017, por não suportar as agressões, insultos e ameaças de morte a que tinha sido sujeita durante vários anos pelo marido.
O Ministério Público afirma que nos dias que antecederam a tragédia, o homicida terá enviado várias mensagens de texto nas quais insultava a mulher, após uma visita a casa da vítima, onde houve uma violenta discussão. Sem resposta às mensagens enviadas, o homem terá decidido ir a casa da vítima onde acaba por matar o seu filho mais velho e a mulher com 30 tiros.
Na noite do crime, o emigrante português terá confessado ter matado a mulher e o filho a pessoas próximas e, após uma negociação com a polícia, rendeu-se na madrugada do dia seguinte.
O Ministério Público descreve o homicida como um marido "ciumento e possessivo", que, depois de ter sido abandonado pela mulher, planeou os homicídios. "Ele não disparou para todo o lado. Apontou para a cabeça, o tórax e o abdómen. Disparou prolongadamente e de forma metódica", alegou a procuradora que acompanha o caso, no última audiência.
Segundo a alegação da representante do Ministério Público, o castigo a aplicar ao pai de família não está aberto a discussão: é necessária a prisão perpétua.
Uma medida terapêutica ou internamento não é uma opção, acrescentou, visto que o psiquiatra não detetou qualquer perturbação mental grave no homem. Por uma questão de forma, a procuradora também solicitou a sua expulsão da Suíça pelo período máximo de 15 anos, previsto no Código Penal.
De acordo com o jornal La Liberté, a defesa da vítima convidou os juízes a afastarem-se da imagem estereotipada do tirano da família e assassino a sangue frio esboçada pela acusação, a fim de abordar a personagem como um todo, tendo em conta as suas experiências de vida e a natureza disfuncional da sua casa.
"Compreender não é desculpar ou perdoar", salientou um dos advogados do homicida. Para a defesa, é impossível ignorar a infância do arguido, nem a dinâmica familiar disfuncional que levou a esta conclusão desastrosa.
A defesa acrescentou ainda que no seio familiar a "brutalidade tinha substituído o amor, os códigos foram distorcidos, as relações foram quebradas". O acusado tentou em vão criar o casulo de família que lhe faltava quando era criança.
O Tribunal Distrital de Broye e Nord Vaudois emitirá hoje o seu veredicto. A leitura da sentença será pronunciada no Tribunal de Medidas Coercivas e Execução de Sentenças em Renens.
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