Marcelo Rebelo de Sousa entregou ao capelão, António Martins, as insígnias do título de membro honorário da Ordem da Liberdade no fim de uma iniciativa sobre “o caso da Capela do Rato”, inserida nas comemorações do 50.º aniversário do 25 de Abril de 1974.
“Aqui houve um gesto de luta pela liberdade e esse gesto merece ser assinalado pelo Presidente da República Portuguesa”, afirmou o chefe de Estado, perante participantes na vigília de há 50 anos pela paz e contra a guerra colonial, reprimida por forças policiais, que hoje se juntaram novamente nesta capela.
Segundo o chefe de Estado, “a vigília significou um momento de certidão de óbito do marcelismo”, que naquele ano de 1972, marcado também pela morte pela PIDE do estudante José Ribeiro Santos, demonstrou em definitivo a sua “incapacidade para equacionar e resolver minimalmente qualquer dos problemas fundamentais para o país”.
“O primeiro era a guerra colonial, o segundo ligado a esse era a democratização, e o terceiro era obviamente transformação económica e social”, apontou.
Nesta sessão, o Presidente da República ouviu o jornalista Jorge Wemans, que enquanto jovem católico participou na vigília de 30 e 31 de dezembro de 1972, defender que “continua a faltar um gesto coletivo sério de pedido convicto de perdão público por parte da Igreja Católica em Portugal, pelo que não fez, pelo que não disse, pelo medo que a tolheu”.
“Pelas conveniências que aceitou, pela sua falta de fé, pelo silêncio a que tão generalizadamente se remeteu”, prosseguiu Wemans. Segundo o jornalista, fundador do Público e antigo diretor da agência Lusa, “os 50 anos de Abril oferecem a ocasião propícia para tal ato público”.
Jorge Wemans apelou, por outro lado, à ação contra a pobreza, a exclusão e as desigualdades, mensagem reforçada pela médica Isabel do Carmo, que nesta ocasião recordou o seu papel nos acontecimentos da Capela do Rato e o envolvimento das Brigadas Revolucionárias, a que pertencia, frisando que “foram os cristãos que decidiram fazer a vigília”.
Na sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que o jornal Expresso, de que fez parte, surgiu em 06 de janeiro de 1973, “em cima do episódio da vigília da Capela do Rato”, que teve repercussões na Assembleia Nacional.
A vigília teve “um efeito brutal por causa da ligação muito íntima que havia entre uma parte da Igreja Católica e a ditadura” e provocou “um eco multiplicado”, sustentou.
“As tensões que atravessavam setores da Igreja ganharam uma dimensão potenciada e imparável”, acrescentou o chefe de Estado.
Nesta iniciativa estiveram a comissária executiva da Estrutura de Missão para as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, a historiadora Maria Inácia Rezola, e o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, que a antecedeu nessas funções.
Marcelo Rebelo de Sousa disse que foi Adão e Silva, ainda antes de ser ministro, que propôs a condecoração da comunidade da Capela do Rato com a Ordem da Liberdade, “por representar aquilo que foi, num momento histórico, determinante para o percurso de conquista da liberdade”.
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