João Pedro Matos Fernandes afirmou, em Vila Real, que as alterações climáticas "não são um fenómeno de futuro, e Portugal está num duplo 'hotspot' das alterações climáticas".
“Estamos na bacia do Mediterrâneo, que é um território onde a quantidade de água que é consumida é superior àquela que é recarregada naturalmente com as chuvas e o litoral português é o território, em toda a Europa, já hoje mais agredido por aquilo que são as consequências das alterações climáticas, com o recuo da linha de costa que chega a atingir, em alguns troços do território, sete metros por ano”, referiu.
Por isso, frisou, é preciso “adaptar”, ou seja, saber viver, conservar e preservar os recursos naturais.
Questionado sobre o movimento “negacionista” das alterações climáticas, que realiza até sábado numa conferência na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o ministro apenas disse não estar “minimamente interessado” em ler as conclusões do encontro.
“Não as vou ler. Acho que não se deve, de facto, negar aquilo que é já hoje uma evidência científica e a democracia tem que se fundamentar também na existência de factos e as alterações climáticas são os factos e quem as provoca nós sabemos quem é”, salientou.
No Ministério do Ambiente estão em curso, ainda que em fases distintas, investimentos de 225 milhões de euros para projetos de adaptação às alterações climáticas.
Matos Fernandes especificou que 25 milhões de euros são destinados para espaços urbanos, 120 milhões de euros para o litoral do país e 80 milhões de euros para a reabilitação da rede hidrográfica.
Hoje, em Vila Real, foram assinados contratos de financiamento, relativos ao Fundo Ambiental, com os municípios de Olhão, Porto, São Pedro do Sul e Vila Real, que vão dispor de cinco milhões de euros para projetos de adaptação às alterações climáticas.
O ministro deu o exemplo da Câmara de Olhão, que vai transformar um jardim de pedra num jardim onde praticamente não se rega, onde todas as espécies consomem pouca água, em que parte dos materiais utilizados são da economia circular, utilizando plásticos reciclados e tijolos fabricados a partir de agregados de obras que resultaram da demolição de edifícios.
O projeto de Olhão envolve um investimento de cerca de 1,3 milhões de euros e visa a requalificação urbana e ambiental dos jardins Patrão Lopes e do Pescador Olhanense.
E no Porto, segundo Matos Fernandes, o projeto é o de “um jardim para ser inundado”.
O projeto do Parque Central da Asprela, no Porto, que vai custar 1,9 milhões de euros, prevê a criação de um espaço urbano que, segundo o governante, “é ele próprio uma bacia de retenção de água" em situação de cheia.
“Isso é adaptar o território aos novos fenómenos climáticos”, sustentou.
São Pedro do Sul vai aplicar 1,3 milhões de euros no projeto Espelho de Água, que visa minimizar aos feitos das cheias e devolver ao rio Vouga as condições normais de escoamento.
Por sua vez, Vila Real quer mitigar as consequências das cheias no rio Corgo e ampliar o parque para jusante, com a construção de percursos pedonais na zona mais escarpada do rio e passadiços, num investimento de meio milhão de euros.
O ministro adiantou que no dia 16 de outubro será colocado em discussão pública o plano de ação português para as alterações climáticas, que será implementado ao longo de 10 anos.
Ainda segundo Matos Fernandes, o valor a investir em Portugal, em ações de mitigação e de descarbonização, aumentou para os 996 milhões de euros, com a inclusão da compra dos comboios, pela CP, que são pagos por fundos comunitários e verbas do Fundo Ambiental.
“Existem dois grandes verbos: mitigar e adaptar. Mitigar mais pensado no futuro, isto é, reduzir os gases que produzem efeito de estufa, adaptar mais pensado no presente, sermos já hoje capazes de viver com os recursos que temos”, afirmou.
No investimento global estão incluídos a aquisição de viaturas elétricas, quer para os transportes públicos ou serviços municipais, a instalação de novos carregadores elétricos, entre outros projetos.
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