
Num novo estudo de modelação publicado na Communications Earth & Environment, investigadores da Universidade da Califórnia, em Riverside, Estados Unidos, mostraram que restaurar as florestas ao seu tamanho pré-industrial poderia reduzir a temperatura média global em 0,34 graus Celsius. Isto representa cerca de um quarto do aquecimento que a Terra já sofreu.
A investigação baseia-se num aumento da área florestal de cerca de 12 milhões de quilómetros quadrados, o equivalente a 135% da área terrestre dos Estados Unidos, e é semelhante às estimativas do potencial global de restauração de árvores de um trilião de árvores.
Pensa-se que o planeta perdeu quase metade das suas árvores (cerca de 3 triliões) desde o início da sociedade industrializada, noticiou na quinta-feira a agência Europa Press.
“A reflorestação não é uma solução mágica. É uma estratégia eficaz, mas deve ser acompanhada por reduções significativas das emissões”, frisou Bob Allen, cientista climático da UC Riverside e principal autor do artigo, citado num comunicado.
Embora os estudos anteriores se tenham centrado principalmente na capacidade das árvores de absorver carbono da atmosfera, esta investigação incluiu outra dimensão crucial. As árvores também influenciam a composição química da atmosfera, amplificando o seu efeito de arrefecimento.
As árvores libertam naturalmente compostos conhecidos como compostos orgânicos voláteis (VOCB) biogénicos. Estes interagem com outros gases para formar partículas que refletem a luz solar e promovem a formação de nuvens e ambos contribuem para o arrefecimento da atmosfera.
A maioria dos modelos climáticos não tem em conta estas interações químicas.
No entanto, os benefícios da reflorestação não são distribuídos uniformemente. O estudo constatou que as florestas tropicais produzem efeitos de arrefecimento mais intensos com menos desvantagens.
As árvores destas regiões absorvem carbono de forma mais eficiente e produzem maiores quantidades de VOCB. Apresentam também menos escurecimento da superfície, o que pode provocar aquecimento nas árvores de latitudes mais elevadas.
Para além da temperatura global, a reflorestação pode também afetar a qualidade do ar regional. Os investigadores observaram uma redução de 2,5% de poeira atmosférica no Hemisfério Norte no seu cenário de reflorestação.
Nos trópicos, o aumento das emissões de VOCB teve efeitos díspares na qualidade do ar. Foram associados a uma pior qualidade do ar com base em material associado ao aumento da formação de aerossóis, mas a uma melhor qualidade do ar com base em medições de ozono.
Estes efeitos localizados, sublinharam os investigadores, sugerem que os esforços de reflorestação não precisam de ser massivos para serem significativos.
Os investigadores reconheceram também que o cenário previsto no estudo dificilmente se concretizará.
O estudo pressupõe que as árvores possam ser restauradas em todas as áreas onde antes cresciam, o que exigiria a recuperação de empreendimentos como habitações, terrenos agrícolas e pastagens. Isto levanta questões sobre a segurança alimentar e as prioridades de utilização da terra.
“Há 8 mil milhões de pessoas para alimentar. Devemos tomar decisões cuidadosas sobre onde plantar árvores. As melhores oportunidades estão nos trópicos, mas estas são também as áreas onde a desflorestação continua até hoje”, apontou Allen.
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