“Espanha não tem um presidente [do Governo] à altura”, afirmou Alberto Núñez Feijóo, depois de acusar o socialista Pedro Sánchez de “ridículo” e de ter arrastado Espanha para essa situação com “uma obra de teatro” nos últimos dias.
“Há uma Espanha indignada” e “estiveram a gozar com uma nação de 48 milhões de espanhóis”, disse o líder do Partido Popular (PP, direita), o maior partido no parlamento espanhol atualmente.
Feijóo, que falava aos jornalistas em Madrid, considerou que a ameaça de demissão de Sánchez – que hoje disse que, após cinco dias de reflexão, continuará à frente do Governo – foi “pura estratégia eleitoral, pura estratégia judicial ou ambas”, em véspera de duas eleições (autonómicas na Catalunha e europeias) e quando há suspeitas de corrupção que afetam “o seu partido, o seu governo e pessoas próximas” do primeiro-ministro.
Para o líder do PP, Sánchez “condenou o país a dias de vergonha internacional e incerteza nacional” e “preferiu fugir em frente em vez de se demitir”, lamentando que não tenha convocado eleições.
“Mandou refletir o povo mas não lhe deu a palavra”, afirmou Feijóo, em referência ao apelo de hoje de Sánchez a uma reflexão coletiva sobre o debate político em Espanha.
Para o líder do PP, Sánchez fez hoje “o mais perigoso” dos discursos por ter sido “uma confissão de que não aceita discrepâncias”, que não quer o controlo da oposição ou dos meios de comunicação e por ter questionado a atuação da justiça e o estado de Direito.
“Quem ameaça a democracia espanhola é quem pretende impor-lhe um projeto puro de poder sem limites para não dar explicações”, afirmou.
Feijóo considerou que apesar de ter decidido continuar no poder, Sánchez e o atual governo espanhol estão em “agonia” e explicou que não vai avançar com uma moção de censura porque o socialista “comprou o apoio” dos parceiros parlamentares “com a dignidade dos espanhóis”, numa referência aos acordos com partidos independentistas.
“Escolheu o caminho mais indigno e o que procurou foi polarização, vitimização e não dar explicações”, afirmou Feijóo.
Também Santiago Abascal, líder do Vox, partido de extrema-direita que é a terceira maior formação no parlamento espanhol, acusou Sánchez de procurar “garantir a impunidade” e “o silêncio total dos meios de comunicação” e de ser um “aprendiz de tirano”.
Pedro Sánchez anunciou hoje que continuará à frente do Governo do país depois de ter revelado que ponderava demitir-se na quarta-feira passada, no dia em que um tribunal de Madrid confirmou a abertura de um “inquérito preliminar” por alegado tráfico de influências e corrupção da sua mulher, Begoña Gomez, na sequência de uma queixa de uma organização conotada com a extrema-direita baseada em alegações e artigos publicados em páginas na Internet e meios de comunicação digitais.
O Ministério Público pediu no dia seguinte o arquivamento da queixa, por considerar não haver indícios de delito que justifiquem a abertura de um procedimento penal.
O líder do Partido Socialista espanhol (PSOE) e do Governo de Madrid reiterou hoje que ele próprio e a família estão há anos a ser vítimas de “um assédio” e uma “campanha de descrédito” dos seus adversários políticos, com base em boatos e mentiras que são levadas para o debate político, e apelou è reflexão coletiva sobre a “degradação da vida pública” em Espanha e à mobilização social “pela dignidade” e contra “a política da vergonha”.
“Andamos há demasiado tempo a deixar que o lodo colonize impunemente a vida política e a vida pública, contaminando-nos de práticas tóxicas”, afirmou.
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