“Sr. Rui”, era assim que Rui Nabeiro era carinhosamente tratado pelas pessoas que lhe eram próximas, pelos seus funcionários, pelos amigos e por todos aqueles com quem lidava diariamente.
“Era uma pessoa com o coração do lado certo. Não deixa de ser curioso que parte no Dia do Pai, o senhor Rui que foi pai de muita gente”, foi assim que o presidente do Instituto Politécnico de Portalegre, Luís Loures recordou Rui Nabeiro na sua intervenção à SIC Notícias, na homenagem a que se juntaram muitas figuras públicas ao longo do dia.
O empresário Rui Nabeiro, morreu esta manhã aos 91 anos, no Hospital da Luz, em Lisboa, onde estava internado desde sexta-feira com uma doença respiratória.
Manuel Rui Azinhais Nabeiro, nasceu em Campo Maior, vila do interior do país, no distrito de Portalegre, junto à raia com Espanha, a 28 de março de 1931. Oriundo de uma família humilde, desde cedo aprendeu a lidar com a adversidade. Com 12 anos, começou a trabalhar com o pai e os tios na torra do café, "numa altura em que o contrabando era atividade que matava a fome das gentes da raia", afirmou Nabeiro, numa entrevista ao Jornal de Negócios, em 2004.
Com muito pouco, o empresário de Campo Maior construiu aquela que é hoje a maior empresa de torrefação de café da Península Ibérica.
Foi um dos empresários mais consensuais do país. Este dia em que se presta uma última homenagem ao Comendador Nabeiro tem sido prova disso. “Uma pessoa humana, muito carinhosa, como um pai”, disse um habitante de Campo de Maior.
Rui Nabeiro enfrentou a adversidade e tornou-se um dos maiores empresários portugueses, colocando no mapa a sua terra natal, Campo Maior (Portalegre). Era um homem de causas.
Nunca saiu do seu Alentejo, resistiu a todas as erosões, as da desertificação, do tempo e da concorrência. Recusou várias vezes a venda da Delta Cafés, uma delas ao poderoso grupo Nestlé.
Atualmente, o grupo Nabeiro emprega pelo menos 4 mil funcionários. “O sr. Rui foi patrão, amigo, pai e um grande empresário, não vai haver mais ninguém como ele”, disse um dos seus funcionários esta manhã.
“O senhor Rui estava sempre em contra-corrente face aos outros empresários, era alguém que se preocupava muito mais com o lado humano do que propriamente a vertente empresarial”, destacou ainda o presidente do Politécnico de Portalegre, instituição que tem contribuído para a fixação de talento no interior do país com apoio de empresas como a Delta.
O Politécnico de Portalegre recebe os funcionários do grupo para formação. E o grupo colabora em projetos de investigação dos alunos e na incubadora de negócios criada no Campus onde os estudantes podem desenvolver ideias e fazer crescer spin-offs e startups em parceria com a Delta e outras empresas.
Foi um empresário de grande consciência social
Rui Nabeiro “sempre se preocupou com os seus funcionários e com a sustentabilidade dos produtos que comercializa, como foi o caso do café de Timor”, recordou o jornalista José Gomes Ferreira à SIC.
Mas a aventura da Delta em Timor-Leste não foi duradoura e o presidente timorense Ramos-Horta lembrou isso na sua mensagem de homenagem ao salientar o esforço do empresário na promoção do café Timor para o exterior.
“Fez algumas tentativas de comprar café de Timor no início, mas o mercado na altura já era bastante orientado para outros países como os Estados Unidos”, disse o presidente timorense - a Starbucks estava em Timor-Leste. Em 2012, a então secretária de Estado dos EUA, Hilary Clinton, revalidou esse interesse numa visita oficial a Díli. “Ainda assim, a sua passagem [de Rui Nabeiro] por Timor foi sentida”, recordou ainda o chefe de Estado timorense. Entretanto, a Delta continua a promover café de Timor em alguns dos lotes que comprou.
José Gomes Ferreira destacou também “a responsabilidade social do empresário, muito querido não só em Campo Maior mas também por todos os portugueses”, disse.
“Tomara muitos empresários serem como ele”, atirou Gomes Ferreira.
*com Lusa
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