“Vimos de culturas e povos distintos, falamos línguas diferentes, vestimos roupas diversas. Cada um dos nossos povos viveu histórias e circunstâncias diferentes. Quantas coisas podem diferenciar-nos”, afirmou Francisco perante milhares de jovens concentrados no campo Santa Maria la Antigua, na cidade do Panamá, ao discursar na cerimónia de abertura das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ).
Porém, “nada disso impediu” este encontro, frisou o papa, para reconhecer que tal sucedeu porque “há algo” que une os presentes.
“Fizestes muitos sacrifícios para vos poderdes encontrar, tornando-vos, assim, verdadeiros mestres e artesãos da cultura do encontro. Com os vossos gestos e atitudes, com as vossas perspetivas, desejos e, sobretudo, a vossa sensibilidade, desmentis e desautorizais todos esses discursos que se concentram e se empenham em semear a divisão, que se empenham em excluir ou expulsar os que não são como nós”, salientou o papa.
Para Francisco, assim é, porque os jovens têm “um olfato capaz de intuir que ‘o amor verdadeiro não anula as legítimas diferenças, mas harmoniza-as numa unidade superior”, citando o seu antecessor, Bento XVI, papa emérito, para quem pediu um aplauso.
“Pelo contrário, sabemos que o pai da mentira prefere sempre um povo dividido e litigioso”, adiantou, referindo que este é o mestre da divisão, e “tem medo de um povo que aprende a trabalhar junto”.
Segundo Francisco, este é um critério que distingue os construtores de muros e os construtores de pontes, assinalando que “são os construtores de muros que, semeando o medo, procuram dividir, mas os jovens querem ser construtores de pontes”.
O papa referiu, ainda, que “a cultura do encontro é apelo e convite”, citando depois “um santo destas terras”, Óscar Romero (1917-1980), que canonizou o ano passado: “O cristianismo não é um conjunto de verdades para se acreditar, nem de leis para se observar, nem de proibições. O Cristianismo é Cristo”.
O papa questionou depois os jovens sobre os que mantém unidos, para responder: “O que nos impele é o amor de Cristo”.
No discurso, Francisco disse, ainda, que prosseguiu as JMJ “não para criar uma Igreja paralela, um pouco mais divertida ou ‘cool’”.
“Ao contrário, queremos redescobrir e despertar, juntamente convosco, a novidade e juventude da Igreja”, acrescentou, para no final dizer que o mais esperançoso destas jornadas é de que não sairá “um documento final, uma mensagem consensual ou um programa a aplicar”.
O mais esperançoso deste encontro será o rosto dos jovens no regresso a casa, com “aquela força nova que se gera sempre” nestes encontros, afirmou.
Na cerimónia de acolhimento ao papa, o português ouviu-se, logo no início da celebração, no desfile de bandeiras, quando representantes dos cinco continentes discursaram.
“Aqui estamos Santo Padre, os filhos da África, o continente que brota a vida, onde culturas milenares encontraram na fé cristã um sinal de misericórdia e de esperança”, disse uma jovem, acrescentando: “Nós, jovens da África, queremos ser esperança para nossos povos”.
As JMJ, maior evento organizado pela Igreja Católica, decorrem até domingo na Cidade do Panamá.
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