No Tribunal de São João Novo, no Porto, o julgamento foi hoje retomado para a sua 10.ª sessão, após três semanas de interregno, por baixa médica de um dos três juízes que compõe o coletivo do processo.

Rui Martins, vigilante de uma empresa privada que prestava serviços ao emblema 'azul e branco', justificou que estava a operacionalizar um elevado número de câmaras (cerca de 90), quando confrontado pelo desvio de uma delas no momento em que um conflito se despoletou na bancada norte do pavilhão.

"Não me recordo ter mexido em nenhuma das câmaras, posso ter tocado no teclado sem querer", admitiu.

O segurança acrescentou ainda que o trabalho de supervisão das imagens do Estádio do Dragão, da Dragão Arena e áreas nas imediações dos dois recintos seria para, pelo menos, duas pessoas, com a grande afluência à reunião magna a forçar alterações logísticas.

"Inicialmente, estava um colega meu na sala das câmaras comigo, mas havia muita gente no P1 [entrada do Estádio do Dragão] e ele saiu", relatou, explicando também que muitas das câmaras eram móveis e, portanto, manipuladas por si para se dirigirem especificamente a ajuntamentos e potenciais focos de tensão.

Já Miguel Marques, associado do FC Porto, afirmou ter sido intimidado no interior do pavilhão, quando filmava com o telemóvel os desacatos da AG, por um grupo de "seis ou sete pessoas" que terá obrigado a testemunha a apagar o registo.

Tendo cumprido a ordem de eliminação, por medo de "represálias", a filmagem acabou por permanecer na reserva do dispositivo, revelação que levou o FC Porto, assistente no processo, a requerer a sua junção.

A presidente do coletivo de juízes, Ana Dias Costa, acedeu ao pedido e concedeu três dias para que as defesas dos arguidos possam analisar o conteúdo do vídeo em questão e exercer o direito a contraditório.

De resto, ainda da parte da manhã, uma funcionária do clube, que geria o processo de credenciação, e uma hospedeira, responsável pela entrega de pulseiras de entrada na AG, relataram irregularidades no procedimento, em consonância com os depoimentos das sessões anteriores.

Os 12 arguidos da Operação Pretoriano, entre os quais o antigo líder dos Super Dragões Fernando Madureira, começaram em 17 de março a responder por 31 crimes no Tribunal de São João Novo, no Porto, sob forte aparato policial nas imediações.

Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação, em torno de uma AG do FC Porto, em novembro de 2023.

Entre a dúzia de arguidos, Fernando Madureira é o único em prisão preventiva, a medida de coação mais forte, enquanto os restantes foram sendo libertados em diferentes fases.