“Há ecos claros da Síria em 2011. Lá também vimos manifestações pacíficas recebidas com uma força desnecessária e claramente desproporcional. A repressão brutal e persistente do Estado contra o seu próprio povo levou alguns indivíduos a pegar em armas, o que foi seguido por uma espiral de violência em todo o país”, declarou Michelle Bachelet num comunicado.
“Temo que a situação em Myanmar (antiga Birmânia) esteja a caminhar para um conflito generalizado. Os Estados não devem permitir que se repitam os erros fatais que foram cometidos na Síria e noutros locais”, acrescentou.
Myanmar mergulhou no caos após o golpe de Estado militar de 01 de fevereiro que afastou do poder a ex-dirigente civil Aung San Suu Kyi.
O exército birmanês justifica o golpe com uma alegada fraude eleitoral nas eleições de novembro passado, ganhas pelo partido de Aung San Suu Kyi e que foram consideradas legítimas pelos observadores internacionais.
Segundo dados da Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos (AAPP), a repressão causou pelo menos 710 mortos, incluindo 50 crianças. Cerca de 3.000 pessoas foram detidas.
Os militares reprimem cada vez mais o movimento pró-democracia que levou às ruas milhares de birmaneses e à realização de greves em numerosos setores da economia.
“Assistimos a um novo fim de semana de derramamento de sangue coordenado em numerosas regiões do país, nomeadamente ao massacre de pelo menos 82 pessoas em Bago de sexta-feira para sábado”, disse.
“Os militares parecem determinados em intensificar a sua implacável política de violência contra a população de Myanmar, utilizado armas do tipo militar e indiscriminadamente”, lamentou Bachelet, referindo a utilização de granadas de fragmentação, tiros de morteiro e ataques aéreos, entre outros.
Segundo o Alto-Comissariado, que não refere as suas fontes, 23 pessoas foram condenadas à morte após julgamentos secretos, entre as quais quatro manifestantes e 19 outras pessoas acusadas de crimes políticos e penais. As detenções em massa obrigaram centenas a esconderem-se.
Bachelet exortou os Estados a tomarem “medidas imediatas, decisivas e efetivas” para forçar a junta militar a acabar com a sua “campanha de repressão e de massacre da população”.
“As declarações de condenação e as sanções dirigidas limitadas não são claramente suficientes. Os Estados com influência devem exercer com toda a urgência uma pressão concertada sobre os militares em Myanmar para que terminem as graves violações dos direitos humanos e os eventuais crimes contra a humanidade cometidos contra a população”, insistiu.
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