A operação, com o nome de código "Teia de Aranha", exigiu meses de preparação e o contrabando de drones para dentro da Rússia.

Este ataque ocorreu na véspera de negociações em Istambul entre representantes da Rússia e da Ucrânia, destinadas a explorar possibilidades de um cessar-fogo.

Danos reclamados, mas por verificar

As autoridades ucranianas afirmam ter causado danos significativos, embora estas alegações não possam ser verificadas de forma independente. Uma fonte do serviço de segurança ucraniano SBU disse que os ataques coordenados atingiram 41 aeronaves, incluindo bombardeiros estratégicos Tu-95 e Tu-22, bem como aviões de comando e deteção A-50 — todos usados para atacar cidades ucranianas.

O Ministério da Defesa russo confirmou que “várias aeronaves pegaram fogo” após o ataque com drones em bases localizadas nas regiões de Murmansk e Irkutsk, no Ártico russo e na Sibéria Oriental. Segundo Moscovo, os incêndios foram rapidamente controlados, não há vítimas e alguns suspeitos foram detidos.

As forças ucranianas alegam ter destruído 34% dos bombardeiros estratégicos russos capazes de transportar mísseis de cruzeiro, avaliando os danos em cerca de 7 mil milhões de dólares.

Uma operação planeada ao detalhe

Segundo a mesma fonte do SBU, a operação "Teia de Aranha" foi preparada ao longo de um ano e meio, exigindo uma logística “particularmente complexa”. Embora a Ucrânia já tenha usado drones para atingir alvos em território russo, esta operação foi inédita na sua execução.

Os drones terão sido introduzidos clandestinamente na Rússia e escondidos dentro de estruturas de madeira montadas em camiões. Os tetos dessas estruturas abriam-se remotamente, permitindo o lançamento dos drones em direção aos alvos.

Fotografias divulgadas pelo SBU mostram pequenos drones negros escondidos em contentores de transporte. O Ministério da Defesa russo reconheceu que os drones “não foram lançados da Ucrânia”, mas sim “nas imediações das bases aéreas atacadas”.

Alcance histórico e simbolismo estratégico

Volodymyr Zelensky saudou os “resultados brilhantes” da operação, que classificou como a mais distante realizada pela Ucrânia desde o início da guerra, há mais de três anos. Com 117 drones, o exército ucraniano conseguiu atingir bases localizadas a milhares de quilómetros, quando normalmente as ofensivas se concentram perto da fronteira.

As bases visadas incluem Olenya, a cerca de 1.900 km da Ucrânia, no Ártico, e Belaya, a mais de 4.300 km, na Sibéria Oriental. Moscovo afirma ter neutralizado outros ataques nas regiões de Ivanovo, Ryazan e Amur — esta última junto à fronteira com a China.

Embora os efeitos práticos sobre as capacidades militares russas ainda sejam difíceis de medir, o simbolismo da ação é relevante. A Ucrânia tem enfrentado dificuldades no terreno e sofre ataques aéreos quase diários, que têm pressionado os seus sistemas de defesa.

Bloggers militares russos descreveram o dia como um “dia negro para a aviação”. A conta Rybar, próxima do exército russo, classificou o ataque como um “golpe duríssimo” e criticou “graves falhas” dos serviços de informação russos.

Para a Ucrânia, esta demonstração de capacidade poderá fortalecer a sua posição à mesa das negociações. O ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko, agora na oposição, afirmou que “não há melhores argumentos” para levar a Istambul do que este ataque.