Organizada por um grupo de cidadãos, a sessão dedicada a Maria Teresa Horta, que morreu em fevereiro aos 87 anos, inclui o documentário “O que podem as palavras” (2022), de Luísa Sequeira e Luísa Marinho, que se centra no processo de criação do livro “Novas Cartas Portuguesas” (1972), contado pelas autoras.

No filme, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa contam que, durante nove meses, se encontraram todas as semanas para discutir ideias e lerem em voz alta aquilo que escreviam, sem censuras e sem pensarem que dali sairia um livro feminista.

As escritoras recordam ainda que a obra foi banida pela ditadura salazarista e que foram levadas a julgamento – relatam a comicidade de uma das sessões -, mas a censura interna não foi suficiente para travar a divulgação internacional do livro. As autoras acabariam absolvidas já depois do 25 de Abril de 1974.

Na sessão de homenagem no sábado vai ser ainda exibida a curta-metragem “Verão Coincidente” (1962), primeiro filme profissional de António de Macedo e que foi alvo de um restauro digital recente pela Cinemateca Portuguesa.

António de Macedo, que esteve entre os realizadores que iniciaram o Cinema Novo Português, fez esta curta-metragem a partir de um poema de Maria Teresa Horta, que conhecia do circuito cineclubista de Lisboa.

A ligação de Maria Teresa Horta ao cinema é o mote para uma conversa no sábado com a participação da realizadora Luísa Marinho, do realizador e músico (e filho de António de Macedo) António de Sousa Dias e do presidente do ABC Cine-Clube de Lisboa, Manuel Neves.

Integrante do Movimento Feminista de Portugal, juntamente com Maria Isabel Barreno (1939-2016) e Maria Velho da Costa (1938-2020), as chamadas “Três Marias”, Maria Teresa Horta sempre lutou pelos direitos das mulheres, uma posição inseparável da sua carreira literária.

Estreou-se na poesia em 1960, com o livro “Espelho inicial”, a que se seguiram vários outros, nomeadamente “Minha senhora de mim” (1971), que foi censurado.

Enquanto jornalista, escreveu para publicações como Diário de Lisboa, A Capital, República, O Século, Diário de Notícias e Jornal de Letras e Artes, entre outros.

Maria Teresa Horta afirmava: “Jornalista é a minha profissão, escritora é quem eu sou”. Aliás, “eu sou a minha poesia” foi uma frase várias vezes repetida pela autora, que deu título a um poema e a uma antologia pessoal publicada em 2019.

No cinema, Maria Teresa Horta é ainda considerada a primeira mulher a liderar um cineclube em Portugal, quando no final dos anos 1950 dirigiu o ABC Cine-Clube de Lisboa.

Em 2014, em declarações à agência Lusa, Maria Teresa Horta lembrava essa ligação ao cineclubismo: “A primeira iniciativa para um ciclo de cinema foi totalmente censurada pelo SNI”, Secretariado Nacional de Informação, organismo de apoio ao regime ditatorial, criado durante o Estado Novo em Portugal.

A escritora relatou que, devido à censura desse ciclo de cinema, teve um encontro com o então diretor do SNI, César Moreira Batista, que lhe marcaria toda a vida.

“Quando Moreira Batista soube que eu era a diretora do cineclube, disse uma frase que nunca esquecerei e que mostra a mentalidade do regime fascista: ‘Pobre país este, onde até as mulheres já são diretoras de cineclubes'”.