João foi parar à cadeia por condução sob o efeito de álcool. Não pagou a multa, não se apresentou em tribunal e acabou detido para cumprir uma pena de 66 dias. Saiu com metade do tempo cumprido graças às normas excecionais de perdão de penas aplicadas devido à pandemia.
"Nunca tinha estado numa prisão. Nem de visita”, conta. E, garante, não voltará a cometer o mesmo erro. "Saio de uma prisão e vou meter-me noutra”, diz com um sorriso, sabendo que depois da caminhada entre o Estabelecimento Prisional de Lisboa e a Penha de França, onde mora, aguardam-lhe mais dias de isolamento, mas desta vez em casa.
E esta nova "prisão" já tem nome: o FMI, que publicou hoje as suas estimativas sobre o impacto desta pandemia na economia, chamou-lhe "o Grande Confinamento". E as expectativas não auguram nada de bom.
“É muito provável que este ano a economia mundial vá viver a sua pior recessão desde a Grande Depressão [de 1929], ultrapassando aquela vista durante a crise financeira global de há uma década [2008-2009]”, pode ler-se no relatório escrito por Gita Gopinath.
No caso de Portugal, a estimativa é de uma recessão de 8% da economia e uma taxa de desemprego de 13,9% em 2020. Mas para para 2021 o cenário inverte-se, com a instituição liderada pela búlgara Kristalina Georgieva a apontar para uma recuperação de 5% do PIB, uma taxa de desemprego de 8,7%.
Ao que tudo indica, Portugal irá prolongar o Estado de Emergência por mais 15 dias, até ao 1º de maio, mas são cada vez mais as vozes que pedem uma estratégia de regresso à normalidade possível.
António Costa diz que é "prematuro", mas reconhece que não podemos "esperar esperar pelo dia de uma vacina", até porque essa poderá não chegar antes da segunda metade do próximo ano. É preciso aprender a "conviver" com o vírus, e essa aprendizagem terá de ser "gradual e progressiva", porque o regresso à normalidade é sinónimo de mais contactos e logo de maior probabilidade de contágio — e ninguém quer enfrentar cenários como os que ensombraram Itália ou Espanha.
O último boletim da Direção-Geral de Saúde diz-nos que Portugal registou até hoje 567 óbitos por covid-19 e um total de casos confirmados que ascende a 17.448 casos. O número de casos recuperados aumentou, entre ontem de hoje, de 277 para 347. Os mais idosos são os mais vulneráveis. Hoje as autoridades de saúde nacionais confirmaram que um terço das mortes provocadas pela pandemia ocorreram em lares.
Mas aos poucos a "atualidade não-covid" vai ganhando espaço nas notícias. Hoje, o ex-presidente norte-americano Barack Obama anunciou o seu apoio a Joe Biden, que se perfila como o candidato democrata mais provável para fazer frente a Trump na corrida à Casa Branca. Em Paris, recorda-se o incêndio de há um ano que obrigou Notre Dame a fechar portas — e a espera permanece, já que a data de reabertura da catedral foi estabelecida pelas autoridades francesas para 16 de abril de 2024. Da Ucrânia, uma boa notícia permite respirar fundo: o incêndio que deflagrava há mais de dez dias na zona de exclusão de Chernobil e que se aproximava da central nuclear foi extinto.
Deixo como nota final uma sugestão de leitura: a entrevista recentemente publicada no SAPO24 com Elvira Fortunato. A conversa antecedeu a chegada da pandemia de covid-19 a Portugal. Estávamos em estúdio, ainda longe das preocupações que o novo coronavírus nos traria, com o desafio de pensar para onde caminhará a Ciência dentro de uma década. O surto, porém, obrigou o mundo a travar a fundo, mas a expectativa é de que em breve possamos regressar aos laboratórios, ao trabalho, às escolas, e projetar a vida não a quinze dias, mas a dez anos. E falar sobre o futuro da ciência em Portugal com Elvira Fortunato (ela que já foi chamada de Cristiano Ronaldo da Ciência) é falar sobre iniciativa, mérito e oportunidades — que são para "agarrar".
As frases que guardo desta conversa são "os eletrões portugueses não são diferentes dos eletrões japoneses ou americanos" e que "nós não temos de ter preconceitos nem de superioridade nem de inferioridade". O tema era outro, mas a mensagem de persistência e resiliência não podia ser mais atual.
O meu nome é Inês F. Alves e o hoje o dia foi assim
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