Na tarde de ontem, a dúvida instalou-se em Portugal, soprada do lado de Espanha: afinal, seria mesmo preciso um de três certificados — vacinação, diagnóstico ou recuperação covid-19 — para cruzar a fronteira para terras de nuestros hermanos?
Do lado de cá não existiam de respostas: Santos Silva disse estranhar a decisão espanhola e considerou a medida "um erro", ameaçando o país vizinho com pagamento na mesma moeda; Marcelo seguiu o mesmo vocabulário e apelidou tudo o que aconteceu de "muito estranho".
Hoje, o governo Espanhol esclareceu todas as questões e pediu desculpas pelo ocorrido. "O próprio ministério da Saúde já transmitiu que efetivamente, no que diz respeito a deslocações por terra com Portugal, vai-se voltar aonde se estava. Quer dizer, não se vai requerer nenhum tipo de prova, nenhum tipo de protocolo adicional além do que já se pedia", disse María Jesús Montero, porta-voz do executivo.
Espanha recuou assim nas suas intenções, depois de ter anunciado que "a partir de 7 de junho todas as pessoas com mais de seis anos que cruzem a fronteira terrestre entre Portugal devem dispor de alguma das certificações sanitárias exigidas a todos os passageiros que entrem em Espanha por via aérea e marítima".
Esclarecido o equívoco, o pedido de desculpa, "no caso de se ter gerado alguma confusão", ao qual veio anexada a garantia de revisão da medida e de todo o documento onde esta constava, para que seja dado um passo atrás.
Apesar da dita confusão, o sucedido vem recordar o que está para vir: o livre-trânsito covid-19, que deverá entrar em vigor a 1 de julho e que vai funcionar de forma semelhante a um cartão de embarque para viagens, em formato digital e/ou papel, com um código QR para ser facilmente lido por dispositivos eletrónicos — disponibilizado gratuitamente e na língua nacional do cidadão e em inglês.
Aceitando tal documento, prevê-se que os países não voltem a aplicar restrições, quando quase metade dos europeus já recebeu a primeira dose da vacina anticovid-19, a não ser que a situação epidemiológica o justifique, mas caberá sempre aos governos nacionais decidir se os viajantes com o certificado terão de ser submetidos a quarentenas, a mais testes ou a requisitos adicionais. As perguntas sobre como tudo vai acontecer são muitas, mas algumas respostas vão começando a surgir, principalmente sobre o modo de funcionamento para vacinados, recuperados e testados que pretendam viajar.
Passos estão a ser dados, mas ainda há trabalho a fazer. Para que o certificado seja mutuamente reconhecido, a Comissão Europeia criou um portal para ligar as infraestruturas técnicas criadas por cada país da UE, comprometendo-se cada Estado-membro a avançar com as suas soluções tecnológicas e a ligá-las a outros sistemas. De momento, 26 países já testaram com sucesso a sua ligação ao portal da UE e, destes, sete já estão a emitir os primeiros certificados, em fase piloto.
Portugal não estará também longe disso, de acordo com as palavras da ministra da Saúde, Marta Temido, que ontem referiu que o país está "em condições de começar a fazer alguns avanços", a partir da segunda quinzena deste mês. Além disso, a vacinação continua a correr — quase 40% da população portuguesa já levou uma vacina contra o novo coronavírus. Estará a normalidade pré-covid mais perto de voltar?
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