“Há uma tendência decrescente relativamente às deportações. Acho que, acima de tudo, o fator deve-se muito a esta consciencialização por parte da nossa comunidade da importância da aquisição da nacionalidade”, afirmou à agência Lusa Paulo Teves.
Segundo dados da Direção Regional das Comunidades dos Açores, em 2011 chegaram ao arquipélago dos Açores 63 cidadãos deportados daqueles dois países, enquanto em 2012 foram 59 e no ano seguinte 37.
Em 2014, foram 24 os açorianos deportados, atingindo-se no ano seguinte o valor mais baixo dos últimos anos, 21.
O ano passado esse número subiu para 23 e, este ano, até ao último domingo, foram 16 os açorianos deportados daqueles dois países, situações que se deveram a permanência ilegal naqueles países e criminalidade.
Questionado se acredita que o número de deportações vai continuar com tendência decrescente, Paulo Teves responde afirmativamente, observando não ter havido “nenhuma alteração à lei da imigração nesses dois países” e insistindo numa “maior consciencialização” por parte da comunidade açoriana residente no estrangeiro.
“Acho que a nossa comunidade, cada vez mais, é muito mais informada daquilo que são os seus direitos e da importância de terem um papel muito ativo nas sociedades onde estão inseridas”, adiantou.
Por outro lado, Paulo Teves destaca o trabalho de organizações que trabalham junto das comunidades açorianas nesses dois países, as quais revelaram à Direção Regional das Comunidades dos Açores existir “um aumento de procura de informações” sobre a legalização.
O diretor regional das Comunidades dos Açores referiu, ainda, a criação, nos Estados Unidos e no Canadá, em 2011, do “Legal Program”.
“Esse programa foi, de uma forma muito maciça, [anunciado] não apenas nessas organizações tradicionais de intervenção social, mas tudo o que eram outras organizações culturais, sociais, desportivas, recreativas, irmandades do Espírito Santo, igrejas, falaram sobre o tema, com cartazes e com panfletos”, referiu, adiantando que entre estas entidades muitas já trabalhavam nos cursos de cidadania e de inglês, para os processos de naturalização dos imigrantes.
Na mesma altura, foi também realizada uma campanha com a transportadora área açoriana SATA e agências de viagens do arquipélago.
Neste caso, quem comprasse uma passagem para Estados Unidos da América ou Canadá ao abrigo da isenção de vistos recebia informação sobre os direitos do visto, acrescentou Paulo Teves.
Açores atribuíram em cinco anos cerca de 250 mil euros a organizações que apoiam emigrantes
O Governo dos Açores atribuiu nos últimos cinco anos 243.500 euros a 13 organizações nos Estados Unidos da América e do Canadá que dão apoio à comunidade açoriana na diáspora, disse hoje o diretor regional das Comunidades.
“Estas instituições fazem parte de uma Rede Internacional de Organizações de Intervenção Social, numa perspetiva de primeiro apoiar a integração dos açorianos emigrados e, também, apoiar principalmente algumas frações da nossa comunidade que estejam numa situação mais vulnerável”, afirmou à agência Lusa Paulo Teves.
De acordo com dados da Direção Regional das Comunidades, em 2017 aquele valor foi de 40 mil euros, quase 10% do orçamento anual desta direção, que totaliza 416 mil euros.
Paulo Teves declarou que “há necessidade de se fazer um acompanhamento junto das comunidades, principalmente em zonas com maior dimensão”, referindo que aquelas entidades estão na Califórnia, Massachusetts e Rhode Island (Estados Unidos da América) e nas províncias canadianas do Quebeque e Ontário.
“Estas são as zonas onde temos uma maior comunidade, ainda por cima de primeira geração, ou seja, açorianos que saíram de cá nos anos 60 e 70”, declarou, referindo que, em muitas situações, não se trata de açorianos com problemas económicos, mas de solidão.
A este propósito, o responsável exemplificou que devido à explosão demográfica e económica em Toronto, “que é uma cidade extremamente cara atualmente, os filhos desses açorianos tiveram de se deslocar para outras cidades nos limites”, fazendo com que os progenitores tenham “mais alguma vulnerabilidade”.
“Essas organizações colmatam um pouco essa solidão”, adiantou Paulo Teves, explicando que prestam também apoio em matérias relativas a pensões ou obrigações fiscais, em matéria laboral e casos de desemprego.
“Como o processo é todo em inglês, os nossos emigrantes podem ter alguma dificuldade no preenchimento, em perceber as regras, e há técnicos que fazem esse acompanhamento e esse apoio, como fazemos aqui também para aqueles que vieram para os Açores e que ainda têm obrigações nos Estados Unidos ou no Canadá”, referiu.
Paulo Teves destacou, por outro lado, o trabalho destas organizações, algumas das quais ministram cursos de inglês e de preparação de cidadania para os emigrantes se “naturalizarem norte-americanos ou canadianos”, nos processos relativos a cidadãos açorianos que são deportados daqueles países.
“É necessário e esta rede foi criada já há vários anos para isso, nós nos prepararmos para a chegada do cidadão”, afirmou o diretor regional, explicando que a região recebe a notificação com alguma antecedência de que o cidadão vai chegar.
Após a receção dessa informação, “há um processo de recolha de informação junto do cidadão e/ou familiares para se perceber que tipo de apoio precisa”, adiantou o diretor regional, assinalando que, com essa antecedência, consegue-se “redesenhar um programa de integração para esse cidadão” deportado.
Segundo a Direção Regional das Comunidades dos Açores, que cita dados dos últimos censos norte-americanos, a comunidade portuguesa nos Estados Unidos é de cerca de 1,4 milhões de pessoas, estimando-se que 70% seja de origem açoriana.
Oficialmente, há 429 mil portugueses e lusodescendentes no Canadá (censos 2011), mas calcula-se que existam cerca de 550 mil, estando a grande maioria localizada na província do Ontário. Estima-se que entre 60% a 70% sejam de origem açoriana.
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