"Hoje, estou descansado, posso ir dormir à vontade, há por aí carros de bombeiros que nunca mais acabam", ironiza Pedro Martins, um dos 11 habitantes da aldeia do distrito de Coimbra, que não perdoa a "falta de ajuda" das autoridades no dia anterior, apesar de terem sido chamadas.
Pelas 23:00 de quarta-feira, com alguns amigos, assiste sentado no chão e de cerveja na mão ao espetáculo surreal de chamas, lanternas dos bombeiros e luzes vermelhas e azuis dos carros que se veem do outro lado do vale.
No dia anterior, David Heitor e mais alguns moradores e vizinhos improvisaram uma brigada de combate ao fogo, que esteve a trabalhar as 24 horas para manter afastadas as chamas com os poucos recursos disponíveis.
"Hoje, não nos cansamos tanto", disse.
Hélio Carvalho, com quem trabalha numa empresa de desportos e atividades na natureza, diz mais sério que é difícil a bombeiros que vieram de todo o país orientarem-se num terreno que não conhecem e considera que "não há boa coordenação" no combate ao incêndio que tem lavrado em várias frentes desde sábado.
"O comando é centralizado e está com pessoas que muitas vezes não fazem ideia do que é o terreno. Nós conhecemo-lo, mas ninguém nos ia ouvir", lamenta.
No posto de comando do combate ao fogo montado do outro lado da encosta, conhecido por este grupo de jovens como "carro das farturas", estavam "centenas parados a noite toda", mas nenhum chegou à Candosa, que, mesmo assim, escapou ilesa.
Duas carrinhas ‘pick-up' com um tanque de 2.000 litros e duas mangueiras foram os meios no terreno destes voluntários.
Hélio Carvalho e David Heitor já conseguem adivinhar que o negócio se irá abaixo nos próximos tempos, porque o que resta da natureza depois de tanto fogo são árvores e chão queimado.
A culpa, sustentam, é da monocultura do eucalipto, da incúria do Estado na manutenção das florestas e da filosofia de combate a incêndios, "em que se espera até já ser demasiado tarde para ir apagar".
A Candosa escapou, por enquanto, mas por aqui não se esquecem as dezenas de mortos de Pedrógão Grande: não se compreende como é que com tantos meios, acontece uma coisa assim, afirmam.
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