As conversas foram retomadas em Doha, capital do Qatar, após forte pressão dos países mediadores para encerrar um conflito com potencial crescente de incendiar todo o Médio Oriente.
"Hoje tivemos um regresso promissor", declarou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, acrescentando que as negociações prosseguirão esta sexta-feira. "Os obstáculos que ainda persistem podem ser superados, para poder concluir esse processo", destacou.
As negociações baseiam-se num plano de três fases anunciado em 31 de maio pelo presidente americano Joe Biden.
A primeira fase prevê um cessar-fogo de seis semanas e uma retirada israelita das áreas densamente povoadas de Gaza, bem como a troca de reféns feitos pelo Hamas por presos palestinianos detidos em Israel.
Desde o início do conflito, em 7 de outubro de 2023, desencadeado por uma incursão brutal de milicianos islamistas do Hamas no sul de Israel, os dois lados pactuaram uma trégua apenas, no final de novembro, durante a qual trocaram dezenas de reféns sequestrados em Israel por centenas de presos palestinianos.
As negociações são celebradas na presença do diretor da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA, na sigla em inglês), William Burns.
Também participam os chefes da Mossad — o serviço de inteligência israelita — e do Shin Bet - a agência de segurança interna — , segundo o gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
Osama Hamdan, um responsável do Hamas, declarou que o movimento não participou na reunião desta quinta-feira, mas que está disposto a juntar-se às negociações se estas resultarem em novos compromissos por parte de Israel.
"Se os mediadores conseguirem obrigar a ocupação [israelita] a chegar a um acordo, faremos isso, mas até agora não há nada novo", disse ele à AFP.
O Hamas, que governa Gaza desde 2007, não participará em negociações prolongadas que "deem mais tempo a Netanyahu para matar o povo palestiniano", acrescentou.
Hossam Badran, outro alto integrante do grupo, afirmou que qualquer acordo deve incluir uma retirada "completa" das tropas israelitas de Gaza.
O movimento islamista, qualificado enquanto organização "terrorista" por Estados Unidos, Israel e União Europeia (UE), insiste em que quer a "aplicação do plano de Biden, e não negociar por negociar".
Entretanto, a par das negociações, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, David Lammy, e o seu homólogo francês, Stéphane Sejourné, discutem nesta sexta-feira as conversas sobre o cessar-fogo com titular da diplomacia israelita, Israel Katz.
"É necessário que os reféns sejam libertados, que haja um alívio para os palestinianos em Gaza, segurança para Israel e menos tensões na região. Pedimos que isso aconteça o mais rápido possível", insistiu John Kirby.
No ataque de 7 de outubro, os comandos islamistas mataram 1.198 pessoas no sul de Israel, a maioria civis, segundo um levantamento feito com base em dados oficiais israelitas. Foram também sequestradas 251 pessoas, sendo que o Exército israelita afirma que 111 continuam em Gaza, mas que 39 terão morrido.
Israel lançou uma campanha militar em Gaza que já deixou 40.005 mortos, segundo o Ministério da Saúde desse território governado pelo Hamas.
Esse balanço é um "marco sombrio para o mundo inteiro", avaliou o alto comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Türk, nesta quinta-feira.
Os temores de uma conflagração regional aumentaram após o assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, a 31 de julho em Teerão, uma ação que o Irão atribui a Israel, e do chefe militar do Hezbollah libanês pró-Irão, Fuad Shukr, um dia antes num bombardeamento israelita perto de Beirute.
Biden avaliou que um cessar-fogo em Gaza pode evitar um ataque iraniano em Israel em resposta ao assassinato de Haniyeh.
Um cessar-fogo também pode pôr fim ao fogo trocado entre o Exército israelita e o grupo libanês Hezbollah, aliado do Hamas e do Irão.
O Exército israelita afirmou esta quinta-feira que tinha "eliminado mais de 17 mil terroristas" em dez meses de guerra.
Um bombardeamento israelita em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, deixou um morto e três feridos, indicou uma fonte médica no hospital Nasser dessa localidade.
Tanques israelitas também entraram no sul da Cidade de Gaza, onde ressoaram disparos de artilharia e bombardeamentos, constatou um correspondente da AFP.
Comentários