Diário de um pai em casa. Dia 32
O pão acompanha a história da humanidade. Faz parte integrante de muitas culturas e extravasa religiões. Todo o passado que se enrola de forma simples na farinha a que se junta água, catapulta o meu palato para este alimento milenar. Em especial, em tempos que são especiais.
Bem dita hora em que o Estado de Emergência decretou que as padarias, que vendem um bem de primeiríssima necessidade, se mantivessem abertas. Já era um cliente habitual, tornei-me quase fundamentalista na ida e na compra.
Durante a quarentena, não pode faltar pão em minha casa. Pão fresco. Para alimentar um agregado familiar (6) que parece o consumir como quem bebe água.
Dou-me ao “luxo” de ir para as filas, mais ou menos longas, para o pão. A imagem, ditada atualmente pela distância social, atira a memória para outros tempos, tempos de escassez de alimentos e que condicionamentos alimentares e económicos.
Mudo de padaria conforme os dias e as vontades. Da mais popular, à mais gourmet.
Experimento de tudo. Os tradicionais, bolinha, carcaça, escuro, saloio, alentejano, as novidades no meu menu, pedra e os “mal-amados”, por mim, a broa de milho, que “fica bem com queijo da serra”, conforme fui informado na Padaria da Esquina, um pão que raramente compro, para não dizer quase nunca.
De manhã à noite, vou mudando o que lhe coloco em cima. Da simples manteiga e queijo, em forma de tosta matinal, aos queijos, compotas, doces e marmeladas. Tenho filhos que acrescentam Nutella. Dizem que é bom.
Há quem procure virar padeiro enquanto a covid-19 se mantiver no ar. Não será o meu caso, embora tenha uma máquina comprada durante a crise financeira, num ano em que tive um impulso de compra para poupar. Acabei só por gastar e não rentabilizar.
Li que esta “loucura” por pão se repete além-fronteiras.
Em Inglaterra, a receita do pão de banana é um dos mais procurados na internet, ao ponto de chefes famosos, como Jamie Oliver, chamarem a si a receita.
Hoje comprei pão pedra, escuro e a tal broa de milho. O de pedra voou ao lanche. À noite vou aventurar-me na broa. O escuro guardo para o pequeno-almoço. E amanhã, lá estarei na fila para o pão.
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