“É preciso afirmarmos alto e bom som que somos uma cidade aberta, queremos acolher, mas é preciso ter políticas de imigração dignas para estas pessoas”, defendeu o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD).
Falando à margem da inauguração da Unidade de Saúde de Alcântara, o autarca de Lisboa disse que o problema das pessoas em situação de sem-abrigo na cidade agravou-se após a pandemia de covid-19, reconhecendo que “a situação está muito difícil”.
“Neste momento, quando falamos de pessoas que não têm teto, que não têm para onde ir, estamos a falar à volta de 300, um pouco mais de 300. Quando estamos a falar pessoas que não têm casa, mas que são acolhidas por nós, estamos a falar em mais de 3.000. Estes são os números hoje, mas obviamente que a situação está grave”, afirmou Carlos Moedas.
No novo centro de saúde de Alcântara, “cerca de 34%” dos 15.700 utentes inscritos são estrangeiros, com 119 nacionalidades diferentes, o que reflete o facto de Lisboa ser “uma cidade da diversidade e uma cidade aberta”, apontou o social-democrata.
“Por isso, acentuar muito a necessidade de termos políticas de imigração que ajudem as pessoas, que lhe deem dignidade, porque temos muitas destas pessoas, mais de metade, são pessoas estrangeiras e muitas delas não têm papéis, não têm família, não têm apoio e, portanto, tudo isso também é preciso considerar”, declarou.
O presidente da Câmara de Lisboa adiantou que o atual executivo municipal investiu “mais do que no passado nas pessoas em situação de sem-abrigo”, realçando o plano do município nesta área para os próximos sete anos, entre 2024 e 2030, que prevê um investimento de “70 milhões de euros”.
“Hoje conseguimos ajudar e acolher à volta de 1.050 pessoas e o nosso plano é passar para 1.700 pessoas que podemos ajudar”, destacou.
O autarca lembrou também a abertura do pavilhão municipal Casal Vistoso, entre 09 e 14 de janeiro, para acolher pessoas em situação de sem-abrigo devido ao tempo frio, referindo que o município conseguiu “ajudar quase metade [das pessoas acolhidas] a terem soluções”, de forma a deixarem de viver na rua.
“Temos soluções de casas para essas pessoas. Temos soluções em acolhimento para essas pessoas e, sobretudo, os serviços da câmara. Se há um serviço da câmara que funciona muito bem, eu diria que é o serviço das pessoas em situação de sem-abrigo, porque são profissionais que conhecem estas pessoas quase pelo nome”, realçou Carlos Moedas.
Entre a Gare do Oriente e a estação do Cais de Sodré, passando pelo Rossio, em Lisboa, as tendas e pequenos abrigos feitos de cartão aglomeram-se, com imigrantes a ultrapassarem o número de portugueses a viver nas ruas.
Todos os imigrantes sem-abrigo abordados pela Lusa esta semana não tinham documentos, embora alguns tivessem deixado para trás um trabalho no Alentejo.
Vieram do Brasil, Índia, Nepal, Marrocos, Gâmbia, Senegal, Angola e muitos outros países, alguns só conseguem comunicar em inglês, e, apesar de a vida em Lisboa não lhes estar a correr bem, sobretudo com o vento e a chuva de inverno, raros são os que querem voltar para os seus países, já que acreditam que vão trabalhar e organizar as suas vidas aqui.
Por enquanto, vivem da ajuda de organizações, como a Comunidade Vida e Paz, uma das mais representativas de apoio aos sem-abrigo.
Comentários