Organizada por plataformas que juntam associações, sindicatos e partidos que são contra a guerra na Ucrânia e a Organização do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês da aliança de defesa entre países da Europa e da América do Norte), os manifestantes gritaram durante mais de duas horas palavras de ordem como “não à guerra imperialista”, “Agora mais que nunca NATO não” ou “NATO não, bases fora”.
As palavras de ordem – como os cartazes e faixas com frases contra a NATO – foram sendo gritadas em vários idiomas, incluindo português e coreano.
Um grupo do Partido Democrático do Povo (comunista) da Coreia do Sul deslocou-se a Madrid para manifestar a sua oposição à aproximação do país asiático à NATO e a uma eventual adesão à aliança militar, como explicou à Lusa um dos elementos que estava no protesto, que acrescentou que isso seria “uma ameaça de guerra” e que os coreanos não querem voltar a estar num conflito militar, numa referência à guerra na península coreana, que dividiu, até hoje, a Coreia em norte e sul.
De Portugal, viajaram 20 elementos do Conselho Português para a Paz e Cooperação, “um autocarro cheio” de elementos da Juventude Comunista Portuguesa (JCP) e uma representante do Movimento Democrático de Mulheres.
A oposição à NATO é “sempre uma linha determinante da ação do Conselho Português para a Paz e a Cooperação”, justificou Julie Neves, à Lusa, sublinhando que está em causa “o cumprimento da própria Constituição da República Portuguesa, onde está prevista a dissolução dos blocos político militares”.
Julie Neves acrescentou que o CPPC condena “todas as guerras e todas as ocupações”, como a da Ucrânia, pela Rússia, e continua a defender que “a dissolução da NATO é determinante para alcançar a paz”.
As bandeiras das juventudes comunistas europeias foram das mais presentes na manifestação, sobretudo as da Juventude Comunista espanhola, ao lado da qual desfilou o grupo da JCP, ao ritmo do grito, em português: “Para a guerra milhões, para os povos só tostões”.
Gonçalo Francisco, da direção nacional da JCP, disse que “um autocarro cheio” levou o grupo de Lisboa a Madrid para a manifestação, não sabendo precisar “um número exato” de participantes.
O objetivo foi “mostrar o compromisso da JCP com a paz e o desarmamento”.
“Estamos profundamente convictos de que a guerra não serve os povos nem a juventude e é preciso denunciar o papel que a NATO tem”, afirmou, condenando a intenção do governo português de aumentar o orçamento “para o negócio do armamento” quando “a juventude passa por tantas dificuldades” e “há carências, por exemplo, ao nível da saúde”.
Regina Marques, do Movimento Democrático de Mulheres (MDM) de Portugal desfilou ao lado de elementos do mesmo grupo de Espanha e Itália, depois de ter estado nos dias anteriores em iniciativas (debates e conferências) de uma “contra cimeira” da NATO.
“Estamos aqui contra a cimeira e a mostrar a unidade que estamos contra as guerras, contra as guerras todas. A NATO é uma força de guerra, agressiva “, disse Regina Marques à Lusa, que lembrou a cimeira da Aliança Atlântica em 2010, em Lisboa, quando tomou uma “decisão histórica de alargamento a regiões não atlânticas”.
“Está a dinamizar-se e a expandir-se, mas a dinamizar-se com armas, não com diálogo”, sublinhou.
Entre os milhares que desfilaram em Madrid, havia pessoas de todas as idades e nem todas estavam integradas em partidos, associações, movimentos ou sindicatos.
Foi o caso de Maria, e 71 anos, espanhola que não quis dizer o apelido à Lusa. Empunhando um pequeno cartaz em pedia “diálogo pela paz”, afirmou que é “absolutamente contra a guerra” e “o armamento crescente” e por isso saiu hoje à rua, como faz com frequência para participar em manifestações.
A de hoje pareceu-lhe especialmente cheia de jovens: “Normalmente, os que vimos somos todos mais velhos. As pessoas que viveram o franquismo participam mais que os jovens”, afirmou, numa referência à ditadura espanhola liderada por Francisco Franco, que acabou em 1975.
A manifestação de Madrid contou com cerca de 2.200 pessoas, segundo o Governo espanhol, sendo que os organizadores e a polícia não avançaram com números.
Entre os participantes estiveram membros de partidos de esquerda da plataforma Unidas Podemos, com quem os socialistas governam Espanha em coligação.
Espanha mobilizou 10 mil agentes das forças policiais, o maior dispositivo em mais de 45 anos de democracia, para garantir a segurança durante a cimeira da NATO de Madrid e os dias anteriores.
A operação de segurança tinha hoje o primeiro grande teste, com esta manifestação, por poderem acorrer a Madrid os designados “grupos antissistema” e provocarem distúrbios, o que não aconteceu.
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