A diretora do Departamento de Saúde Pública e Ambiente da Organização Mundial de Saúde, Maria Neira, apontou a falta de acesso a água potável, a falta de alimentação por degradação da agricultura e a poluição atmosférica como os "três pilares da saúde pública" afetados pelas alterações climáticas.
As doenças respiratórias como a asma, agravadas pela poluição atmosférica, causam "sete milhões de mortes" no mundo anualmente, segundo os dados da Organização Mundial de Saúde citados por Maria Neira, que falava num seminário sobre adaptação do sistema de saúde às alterações climáticas promovido pela Direção-Geral da Saúde na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
O cumprimento das metas do acordo de Paris para conter o aquecimento global "pode ser o mais ambicioso plano de saúde pública deste século".
"Os representantes da saúde não podem só falar de doenças" e devem apontar o caminho para medidas como a redução do uso de combustíveis fósseis, a regulação do trânsito nas cidades, incentivo a transportes públicos "mais baratos e acessíveis" e consumo eficiente de energia, defendeu.
A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, afirmou que "as alterações climáticas têm que passar a estar nas agendas" dos serviços de saúde.
As mudanças na flora e na fauna significam que os insetos que transportam doenças como "o dengue, a malária e o vírus Zika" chegam a geografias onde não costumavam estar e já se registam "invasões destas espécies na Europa".
A ministra da Saúde, Marta Temido, indicou por seu lado que é preciso "reforçar a vigilância" e a colaboração internacional para antever e prevenir epidemias desse género.
A Madeira já teve casos de dengue em 2012 e a doença também já apareceu em Espanha, Itália e França, invocou, considerando que as consequências das alterações climáticas são "um problema que toca a todos e um problema do presente".
O especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos, apontou que a concentração atual de dióxido de carbono "é a mais elevada em dois milhões de anos".
Fenómenos como furacões e outras manifestações meteorológicas extremas estão a tornar-se mais frequentes e mais graves, indicou, e as suas consequências vão muito para além das mortes diretas e dos danos que provocam.
Em países menos desenvolvidos, onde as condições de vida são à partida piores, a destruição de infraestruturas e das redes de água potável favorecem epidemias de cólera e doenças diarreicas.
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