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De acordo com um estudo do Centro de Combate ao Ódio Digital (CCDH – Center for Countering Digital Hate, em inglês), o abandono anunciado pela Meta do seu programa de verificação de factos e dos seus sistemas de deteção de discurso de ódio poderá resultar na cessação de 97% do seu atual trabalho de moderação e, portanto, numa “onda gigante” de conteúdos prejudiciais aos utilizadores da Internet.
A ONG fez esta estimativa analisando as principais alterações anunciadas pelo Meta no dia 07 de janeiro, incluindo a substituição da verificação de factos por notas comunitárias, ou o abandono das suas regras sobre “imigração, identidade de género e género”.
“A Meta deve explicar aos seus utilizadores porque está a abandonar uma abordagem que apresentou como eficaz contra a desinformação e a polarização” de opinião, aponta a CCDH no seu relatório.
Em 07 de janeiro, vésperas da tomada de posse de Donald Trump, o presidente do Meta, Mark Zuckerberg, anunciou que ia “livrar-se dos verificadores de factos e substituí-los por notas da comunidade”, acreditando que as eleições marcaram um “ponto de viragem cultural” que dá “prioridade à liberdade de expressão”.
O grupo californiano acrescentou que pretende “simplificar” as suas regras e “abolir um certo número de limites relativos a temas como a imigração e o género, que já não estão no discurso dominante”.
Esta reviravolta foi recentemente seguida pelo anúncio de uma mudança na política da rede social X de Elon Musk.
O conselheiro próximo de Donald Trump prometeu na passada quinta-feira “consertar” uma característica do X permitindo aos utilizadores negar ou qualificar publicações potencialmente falsas, acusando “os governos e os meios de comunicação tradicionais” de as terem apreendido, num contexto de dissensão com a Ucrânia.
Para o responsável da CCDH, Imran Ahmed, se as notas da comunidade continuarem a ser “uma adição bem-vinda às medidas de segurança das plataformas”, este modelo baseado na participação dos utilizadores da Internet “não pode e nunca será capaz de substituir completamente as equipas dedicadas de moderação e deteção de IA”.
A AFP participa em mais de 26 línguas num programa de verificação de factos desenvolvido pelo Facebook, que paga a mais de 80 meios de comunicação em todo o mundo para utilizarem as suas “verificações de factos” na sua plataforma, no WhatsApp e no Instagram.
Retrocessos na verificação de informações abrem a porta para mais ódio
Os retrocessos na verificação de factos e moderação de conteúdo nas redes sociais abre o caminho para mais ódio, alertou o chefe da ONU, António Guterres, esta segunda-feira.
O secretário-geral da ONU disse que, nesse contexto, as pessoas estão cada vez mais com medo de participar nas redes sociais, o que, por sua vez, leva a uma redução da liberdade de expressão.
"À medida que as novas tecnologias permeiam todos os aspectos das nossas vidas, preocupa-me profundamente que os direitos humanos estejam a ser prejudicados", disse ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra.
Guterres afirmou que, na melhor das hipóteses, as redes sociais são um lugar para as pessoas trocarem ideias num ambiente respeitoso, mas, na pior das hipóteses, podem ser um local de discussões e "ignorância flagrante".
"Um lugar onde os venenos da desinformação, do racismo, da misoginia e do discurso de ódio não são apenas tolerados, mas muitas vezes incentivados", destacou.
"Os recentes retrocessos na verificação de informações e na moderação de conteúdos nas redes sociais estão a reabir a porta para mais ódio, mais ameaças e mais violência", disse.
"Não nos enganemos. Estas reversões levarão a menos liberdade de expressão, não a mais, à medida que as pessoas ficam cada vez mais com medo de participar nessas plataformas", acrescentou.
No mês passado, o fundador e CEO da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou o encerramento do programa de verificação de factos da empresa nos Estados Unidos, cujo objetivo era combater a desinformação em suas plataformas.
Com o novo sistema, os utilizadores poderão adicionar notas contextuais às publicações, semelhante ao que acontece na rede social X, onde os próprios utilizadores são chamados para desmascarar mentiras, em vez de jornalistas especializados em verificação de factos.
A Meta também reduziu as suas iniciativas de diversidade e flexibilizou as regras de moderação de conteúdo no Facebook e no Instagram, principalmente em relação a certas formas de discurso hostil.
*Com agências
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