Nas vésperas do Conselho Europeu extraordinário que deverá aprovar o esboço preliminar alcançado entre Londres e Bruxelas após dois anos de negociações, representantes de profissionais e empresas de mediação do setor imobiliário dizem não “estar preocupados” com os reflexos no mercado inglês em Portugal, nomeadamente no Algarve.
Os profissionais do setor consideram que houve uma quebra mais acentuada nos meses a seguir ao referendo, mas que depois houve uma recuperação e, desde então, regista “altos e baixos” pouco expressivos que estarão relacionados não tanto com o ‘Brexit’, mas com o aparecimento de novos mercados, nomeadamente o francês.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Apemip-Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal, Luís Lima, disse que logo a seguir ao referendo do ‘Brexit’, em 2016, notou-se uma quebra de 20 a 30% no mercado inglês, mas que depois recuperou.
“Inicialmente houve uma descida que, no meu entender, foi por uma questão emocional e devido à conjuntura do imobiliário de valorização dos ativos que fizeram com que muitos ingleses vendessem. Mas depois melhorou”, explicou.
Apesar de não ter dados oficiais relativamente ao ano de 2018, Luís Lima salienta que “não há nada que aponte para uma situação complicada”.
“Não sei o que vai acontecer daqui para a frente, mas o investimento inglês tem-se mantido estável em 2018. (…) Não vi nenhuma saída em bloco dos ingleses do Algarve, eles continuam a comprar e surgiram outras nacionalidades no mercado, na qual se destaca a francesa”, contou.
O presidente da APEMIP adiantou que muitos ingleses têm feito perguntas “nos últimos tempos” para saber o que podem fazer no futuro.
“Muitos ingleses estão a preparar uma segunda residência em Portugal que lhes permita circular na União Europeia, que vão deixar de ter”, disse.
Questionado sobre o que poderá acontecer após a saída do Reino Unido da União Europeia, Luís Lima considera que a situação tem de ser vista com alguma cautela e sem certezas.
“Somos muito cautelosos e depende do que venha acontecer, mas nós temos sempre a hipótese de dar a volta na ótica do imobiliário, pela relação histórica que temos com o mercado inglês. Acho também fundamental que o programa Vistos Gold seja reavivado porque pode vir a ser usado pelos ingleses no futuro”, disse.
“Não devíamos perder o programa Visto Gold que os ingleses não usam agora porque não precisam, mas um dia, mais tarde, pode ser uma excelente arma para nós, para mantermos investimento. Estou sempre a dizer aos agentes políticos para terem cuidado. Eles já o estragaram, pois neste momento, o programa está quase morto”, disse.
Na opinião de Luís Lima, o programa “pode ser muito interessante para aquilo que vem aí”.
Também Reinaldo Teixeira, presidente do conselho de administração da Garvetur, empresa do Grupo Garvetur que abrange dezenas de empresas de serviços do imobiliário turístico, residencial e de investimento no Algarve, disse à Lusa que não está preocupado com o ‘Brexit”, porque o mercado inglês é histórico na relação que tem com a região.
“O mercado inglês (…) tem sido o primeiro mercado estrangeiro a nível de turistas e tem sido também o primeiro mercado estrangeiro a comprar. Nos últimos anos registámos também um crescimento grande noutro mercado, nomeadamente o francês”, contou.
Apesar de não ter também números concretos para avançar, o responsável explica que a seguir ao referendo houve uma quebra no mercado inglês, tendo recuperado com algumas oscilações.
No entendimento de Reinaldo Teixeira, as quebras não têm tanto a ver com o ‘Brexit’, mas com alguns mercados que estavam parados e que voltaram.
“Não sinto quebra significativa. Não acredito que os próximos tempos sejam preocupantes a esse nível. Relativamente ao ruído que se criou com o ‘Brexit’, é nosso dever como empresários e entidades promotoras do país levar a cabo ações ainda mais próximas do mercado inglês”, destacou.
“Num contexto da nova realidade, o que podemos fazer é: continuar a alimentar a relação histórica e continuar a divulgar. A situação do ‘Brexit’ não é um fator de distanciamento, muito pelo contrário é de proximidade”, disse.
O referendo decorreu a 23 de junho de 2016 e terminou com uma votação de 52% a favor da saída do Reino Unido e 48% pela permanência e uma taxa de participação de 72% dos 46,5 milhões de eleitores britânicos.
Os chefes de Estado e de Governo dos 27 países que permanecerão na União Europeia após o ‘Brexit’ realizam no domingo um Conselho Europeu extraordinário, em que deverão aprovar o esboço preliminar alcançado entre Londres e Bruxelas.
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