Dita a regra que às 19h00 do dia das eleições se saiba a percentagem de abstenção e que uma hora depois sejam conhecidas as primeiras projeções. Assim, cerca das 20h00 de hoje, as televisões portuguesas anunciaram os resultados que abriram caminho à reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa: a vitória chegaria entre os 57 e os 62% dos votos. À primeira volta, portanto. Mas por partes.
O dia começou com medo. O medo de que o eleitorado não saísse à rua para ir votar em plena pandemia. Isto levou a que candidatos e demais figuras políticas se desdobrassem em apelos para que não se deixasse de fazer o "dever cívico". Para que o eleitorado não tivesse medo de ir votar — já que o processo era seguro. E, quem acedeu ao pedido, saiu de casa, colocou a máscara no rosto, levou a sua caneta e foi votar. Muitos logo às 8h00.
Seguiram-se notícias de filas nalguns locais, relatos de que não se esperou mais do que cinco minutos noutros — até de "votos em protestos" em forma de abstenção. Tudo de forma ordeira e com sensatez. Mas não sem alguns problemas. Porque existiram vários casos de pessoas que hoje se deslocaram às urnas para descobrir que já existia um voto em seu nome nestas eleições presidenciais.
Não obstante, o dia prosseguiu o seu rumo e as urnas foram ganhando boletins que espelhavam a vontade dos que saíram de casa para votar. Porque o busílis não era sobre quem iria ganhar, mas sim quem ficaria imediatamente a seguir. Às 20h00, nas primeiras projeções das televisões, a dúvida dissipou-se: Ana Gomes ficaria em segundo, André Ventura em terceiro — ainda que a força do candidato apoiado pelo Chega ficasse bem espelhada nos mais de 450 mil votos que recebeu. Aliás, Paulo Portas alertou para o facto de, pela primeira vez em 40 anos, haver um populista que reúne "dois dígitos".
O que reforça a ideia de que a esquerda saiu enfraquecida destas eleições. Francisco Louçã, ex-líder do Bloco de Esquerda (BE), defendeu mesmo que "à esquerda, todos foram derrotados" e que neste espetro político "ninguém vai festejar". Tanto que a própria Marisa Matias, a primeira dos candidatos a falar esta noite, assumiu que os seus resultados nas eleições "estão longe do objetivo" traçado.
Há outra nota a tirar desta noite: Ana Gomes é agora a mulher mais votada de sempre, superando o resultado obtido precisamente por Marisa Matias em 2016 quando arrecadou 10% dos votos. É certo que não conseguiu o objetivo — de forçar uma ida à segunda volta —, mas não deixa de ser um resultado importante. E que deixa no ar a impressão de qual seria o verdadeiro resultado caso o PS assumisse o seu apoio (ainda que o presidente dos socialistas, Carlos César, tenha afirmado que esta noite "a democracia venceu na primeira volta").
Sobre o futuro? Fica a ideia de que Marcelo não pode ser o Marcelo do primeiro mandato — ainda que tenha tido mais votos do que em 2016. Terá que mudar de comportamento. A atualidade e a pandemia assim o exigem. Pelo menos esta é a opinião de Marques Mendes. O ex-líder do PSD (e comentador político da SIC) antecipa que Marcelo Rebelo de Sousa "vai ser igual no plano dos princípios" e "diferente face às circunstâncias". Hoje, fintou o medo das filas criado pelo dia de voto antecipado e o medo da pandemia. A partir de amanhã, cá estaremos para ver.
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