Questionado se prevê fazer ‘dupla’ muitas vezes com o recém-empossado presidente da Câmara de Lisboa, eleito numa coligação encabeçada pelo PSD, Marcelo Rebelo de Sousa preferiu acrescentar um terceiro elemento à conversa: o presidente da Junta de Freguesia de Benfica, o socialista Ricardo Marques, que hoje fez de mestre de cerimónias na visita ao bairro nascido em em 1941.
“Eu estava convidado, o senhor presidente da Câmara estava convidado. Foi um encontro muito bom, juntou-se a nós o presidente da junta, ficou uma ‘troika’ virtuosa”, afirmou o chefe de Estado, provocando risos entre a comitiva.
E acrescentou: “Eles são de orientações políticas diferentes e eu estou acima dos partidos. Bem, em rigor, o presidente da câmara e da junta também estão acima dos partidos”.
O antigo secretário de Estado nos tempos da verdadeira ‘troika’ já tinha considerado “uma honra” acompanhar o chefe de Estado nas visitas que este fizer na cidade de Lisboa, em declarações aos jornalistas ainda antes da chegada do Presidente da República, destacando algumas preocupações comuns.
“Partilho com o senhor Presidente da República este desafio e este objetivo concreto de cuidar das pessoas, de estar com as pessoas”, afirmou Carlos Moedas.
E pessoas não faltaram nesta deslocação presidencial, que fez lembrar os tempos pré-pandemia, em número de ‘selfies’, cumprimentos e até numa visita a uma cozinha para o Presidente avaliar a sopa que estava a ser preparada para a festa.
Marcelo tirou a colher de pau à cozinheira, destapou tachos e até tirou a máscara para cheirar melhor.
“Esta é melhor, é mais forte”, disse, preferindo a sopa da fava rica à chamada sopa do Barroso, nome pelo qual era conhecida a tradicional sopa dos pobres.
O Presidente começou a visita pela Associação Recreativa de Moradores e Amigos do Bairro da Boavista, subiu até ao mais antigo clube do bairro, o das Águias, onde partilhou um pires de tremoços e uma ‘mini’ com alguns elementos da comunidade cigana, deixando um pedido.
“Têm de se virar para as crianças e jovens, para as novas gerações, têm de perceber o papel que podem ter no futuro, eles e elas”, afirmou, destacando que a mulher tem hoje um papel “maioritário e decisivo na sociedade portuguesa e que já não volta para trás”.
“As mulheres têm tantos direitos como os homens”, reconheceu um dos jovens com quem conversava.
No clube, ainda forrou o estômago com uma sandes de courato e partiu para outro dos projetos do bairro, um conjunto de 50 casas que substituíram as tradicionais moradias de alvenaria e que são ecossustentáveis e planeadas para pessoas com mobilidade reduzida e evolutivas, podendo aumentar se a família crescer.
Com a arquiteta e antiga vereadora lisboeta Helena Roseta ao lado - uma das responsáveis pelo projeto -, Marcelo visitou a casa de uma das moradoras, Florinda Belchior, a quem fez questão de fotografar com a máquina ‘roubada’ ao fotógrafo oficial da Presidência.
“Deste Bairro da Boavista saíram portugueses espalhados pelo mundo, desportistas, e foi-se renovando e vai-se renovar”, sublinhou, destacando a “integração única” entre as várias comunidades e a “preocupação social antes da época” aqui vividos.
Marcelo Rebelo de Sousa prometia continuar “noite fora” na festa e nem as máscaras atrapalhavam a distribuição de beijinhos pelo bairro, sucedendo-se as visitas a clubes e associações locais, mas a visita terminou quase em jeito de concerto, com o Presidente da República e Carlos Moedas a subirem ao palco onde atuavam desde a tarde alguns artistas locais.
“É a minha primeira visita aqui enquanto presidente da Câmara, mas vão ter-me aqui muitas vezes ao vosso lado. O que mais me orgulha é o vosso orgulho neste bairro, nas vossas raízes”, afirmou o autarca.
Já Marcelo Rebelo de Sousa começou por ‘aquecer’ a plateia, lançando o desafio: “Qual é o melhor bairro de Lisboa, qual é o melhor bairro de Portugal, quero ouvir mais alto”.
“São 80 anos de calor humano, de luta, de amizade, 80 anos de raízes e de viragem para o futuro, desde o tempo das casas de lusalite e em madeira, e depois avançando ponto a ponto, passo a passo”, salientou, destacando a construção para breve de uma nova escola e um novo parque.
Apesar da longa visita, o chefe de Estado prometeu voltar “em breve para uma sardinhada”, chamou as crianças para subirem ao palco, despedindo-se com um “ié ié ié, a Boavista é que é”.
O Bairro da Boavista, localizado na freguesia de Benfica, foi construído na década de 1940, para o realojamento de famílias provenientes de habitações precárias.
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