Ao todo, são 241 os locais atingidos por todo o país, verificados pela UNESCO, muitos deles destruídos, envolvendo museus, centros de arte, instalações universitárias, bibliotecas, igrejas e catedrais, escolas a edifícios históricos e de interesse cultural, em particular na região de Donetsk, onde a UNESCO confirmou o ataque a 66 bens do património, quase sempre sujeitos a destruição e saque.
Os números mais recentes, num levantamento da destruição que vai até quarta-feira, 22 de fevereiro, confirmam o ataque a pelo menos 106 sítios de natureza religiosa, 18 museus, 86 edifícios históricos, 19 monumentos e 12 bibliotecas.
Na região de Donetsk, que concentra perto de um quarto da destruição de património cultural no país, a lista da UNESCO é dominada por Mariupol, com quase três dezenas de edifícios e monumentos desaparecidos, que incluem os Centro de Arte Contemporânea, o Museu de Mariupol, a biblioteca central da cidade, a Escola das Artes, o Palácio da Cultura, conjuntos residenciais classificados do século XIX e das décadas de 1930-1940, cerca de uma dezena de igrejas e catedrais, monumentos e memoriais, além do principal teatro, um dos primeiros atingidos, no início da ocupação russa da cidade.
A destruição de bens culturais na região de Donetsk, onde se concentram frentes de combate desde o início da guerra, foi ainda testemunhada pela UNESCO em localidades como Bakhmut, Bohorodychne, Marinka, Volnovakha, Niu-York e Chasiv Yar, onde não foram poupados museus, bibliotecas, salas de espetáculo, locais de culto nem monumentos e memoriais, muitos dedicados a vítimas do nazismo na II Guerra Mundial.
O mesmo tipo de destruição é atestado pela UNESCO nas regiões Kharkiv (54 bens patrimoniais atingidos, entre os quais o Memorial do Holocausto), Kiev (35), Lugansk (30), Chernihiv (16), identificando ainda mais de quatro dezenas de casos de património cultural atingido ou devastado nas regiões de Kherson, Mykolaiv, Odessa, Sumy, Vinnytsya, Zaporizhzhya e Zhytomyr.
Na região da capital ucraniana a lista de bens cuja destruição foi verificada pela UNESCO inclui centros culturais, museus e bibliotecas de localidades que estiveram sob ocupação russa, como Borodyanka e Irpin.
Em Kiev, a destruição atingiu mais de uma dezena de igrejas incluindo as da Santíssima Trindade, da Ressurreição de Cristo e a da Natividade, um edifício de madeira datado de 1892. Foram também atingidos monumentos de homenagem aos mortos que combateram o nazismo na II Guerra Mundial, bibliotecas de Makariv e Pidhaine, o museu nacional de Kiev “Picture Gallery” e o Palácio Nacional das Artes.
Dos museus de Kherson, Mariupol e Melitopol, este na região de Zaporizhzhya, testemunhos locais dão conta de destruição e saque, pelas forças invasoras.
Na cidade portuária de Odessa, cujo centro histórico foi inscrito em janeiro na Lista do Património Mundial da UNESCO, a organização registou o ataque ao Museu de Arte Moderna e ao Museu de Belas Artes, onde destruiu as janelas e o telhado de vidro, pondo em risco o acervo da instituição inaugurada em 1899.
Nos últimos meses, porém, no contexto da classificação, a UNESCO revelou que foram tomadas medidas de emergência para ajudar a proteger a cidade, o que contribuiu para a reparação de danos infligidos em ambos os museus, desde o início da guerra.
Na declaração de classificação de Odessa, a UNESCO revela que “também forneceu equipamentos para a digitalização de cerca de mil obras de arte e do acervo documental do Arquivo do Estado” da região, tendo ainda sido “entregues equipamentos para proteger os edifícios, assim como as obras de arte ao ar livre”.
Estas medidas fazem parte de um plano de ação geral da UNESCO na Ucrânia, no valor de 16 milhões de euros para educação, ciência, cultura e informação.
Na passada quarta-feira, numa declaração conjunta das relatoras especiais da Organização das Nações Unidas (ONU) para os direitos culturais (Alexandra Xanthaki), a educação (Farida Shaheed) e para a liberdade de religião e culto (Nazila Ghanea), a Rússia foi acusada de “tentar apagar a cultura, história e língua ucranianas” nas áreas ocupadas da Ucrânia.
As relatoras destacam a situação no Donbass e na Crimeia, denunciando “uma substituição forçada da identidade ucraniana pela identidade russa”.
“Livros de literatura e história acusados de serem ‘extremistas’ foram retirados das bibliotecas públicas e destruídos pelos invasores nas cidades dos territórios ocupados de Lugansk, Donetsk, Chernihiv e Sumi”.
As três relatoras apresentaram igualmente casos de professores, diretores de escolas e funcionários públicos detidos por se recusarem a adotar currículos do ensino russo, situação agravada com o recrutamento de “centenas de professores do território russo para trabalhar no leste da Ucrânia”.
Na sua declaração, as três especialistas da ONU garantem que “escritores, artistas e trabalhadores do setor da cultura foram mortos ou gravemente feridos, muitas vezes quando tentavam proteger bens culturais”.
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