O tema tem marcado as eleições legislativas antecipadas de 30 de janeiro, desde que o secretário-geral do PS e primeiro-ministro, António Costa, pediu a maioria absoluta, e hoje voltou a dominar a campanha.
A discussão foi lançada no debate entre os líderes dos partidos com assento parlamentar, sem Rui Rio e André Ventura, transmitido na Antena 1, Renascença e TSF, e em que os partidos à esquerda e direita do PS alertaram para os riscos de uma maioria absoluta.
Da parte do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins insistiu que "as pessoas têm más memórias de maiorias absolutas por boas razões", enquanto João Oliveira, da CDU, declarou que o PS "parece estar a querer confinar-se no pior da sua tradição" ao apelar a uma maioria absoluta.
Também Rui Tavares, do Livre, defendeu que as maiorias absolutas "põem perigos que são relevantes" e Inês de Sousa Real, pelo PAN, alegou que uma maioria absoluta "não é desejada pelos portugueses". À direita, João Cotrim de Figueiredo, da Iniciativa Liberal (IL), advertiu para uma "tomada de controlo do aparelho de Estado".
Perante os alertas, António Costa quis descansar os eleitores, insistindo que o Presidente da República lhe imporá limites, como fez Mário Soares, mas a referência não foi bem-vista pelos restantes líderes partidários, que criticaram o primeiro-ministro por chamar Marcelo Rebelo de Sousa à campanha.
À saída do debate, Cotrim de Figueiredo considerou ter sido "um enorme descaramento” e o presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, disse achar "curioso que António Costa, em vésperas de eleições, tenha chamado o Presidente da República para o debate da campanha eleitoral".
Para a porta-voz do PAN, que também falou à saída do debate, a regulação de uma maioria absoluta "não deve estar nas mãos do Presidente da República" e, do lado da CDU, João Oliveira observou que o líder do PS "procura empurrar para a intervenção do Presidente da República a possibilidade de impedir que essas medidas negativas [numa maioria absoluta] possam acontecer".
Até Rui Rio, que decidiu falhar o debate para se dedicar à campanha, comentou o tema, e reiterou a crítica já feita na quarta-feira ao líder do PS de invocar o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, como garantia contra eventuais riscos.
Do debate das rádios, em que se discutiu a revisão constitucional para acautelar um cenário de emergência sanitária, o referendo sobre a morte medicamente assistida e até a energia nuclear, saiu outro dos temas que marcou o resto do dia de campanha, relacionado com a governabilidade depois de dia 30.
À esquerda, João Oliveira desafiou o secretário-geral do PS a responder sobre a disponibilidade para uma convergência que afaste a direita do poder, voltando depois a insistir no tema. Do outro lado, António Costa apontou como limite nas negociações com o PCP o aumento do salário mínimo nacional reivindicado pelos comunistas, "mais do dobro".
À direita, Rodrigues dos Santos voltou a reafirmar o desejo de que o partido possa voltar a ter a pasta da defesa e a resposta de Rui Rio chegou mais tarde: "É uma questão de se ver, não seria a primeira vez que o CDS tinha o Ministério da Defesa, como sabemos".
Sobre a distribuição de jogo após as eleições, Inês de Sousa Real deixou hoje a porta aberta para o partido integrar um futuro governo, após as eleições do dia 30, mas avisou que em "primeiro lugar" está o avanço das suas causas.
Já o presidente da IL garantiu que a discussão de cargos ou pastas num futuro governo é uma "preocupação secundária" assumindo, contudo, que a economia, saúde, administração interna ou modernização administrativa são áreas onde são "fortes".
O presidente do Chega, André Ventura, que também faltou ao debate das rádios, voltou a insistir na ideia de que há políticos a mais em Portugal, apesar de o país estar abaixo na média europeia no número de deputados por cem mil habitantes.
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