"Apresentámos o convite. Foi aceite" limitou-se a responder nesta segunda-feira um porta-voz da primeira-ministra Theresa May, em resposta à petição que pede que seja alterado o convite oficial a Donald Trump para visitar a Grã-Bretanha. "A bem documentada misoginia e vulgaridade de Donald Trump desqualifica-o para ser recebido por Sua Majestade ou o príncipe de Gales", afirma a petição, criada ainda antes do decreto assinado pelo presidente americano que impede a entrada nos Estados Unidos dos refugiados e de cidadãos de sete países.
Os signatários desejam que o estatuto da visita, atualmente feita ao mais alto nível, seja alterado.Os convidados para uma visita de Estado são hóspedes da rainha no Palácio de Buckingham durante duas noites e desfrutam de um procedimento protocolar maior. O Mall, a avenida que leva até ao palácio, é decorado com grandes bandeiras do país do visitante, que chega ao local de carruagem acompanhado pela rainha, que ainda oferece um jantar de gala em sua homenagem.
A data da visita de Trump ainda não foi estabelecida, mas segundo especulações pode acontecer em junho ou julho. O convite foi anunciado durante a visita de May à Casa Branca, quando os dois governantes demonstraram grande sintonia.
Petição cresce a cada hora que passa
Na Grã-Bretanha, a prática é que o governo responda a todas as petições com mais de dez mil assinaturas e a partir das 100 mil assinaturas passam a ser consideradas para discussão no Parlamento. Face aos números já alcançados pela petição contra a visita de Donald Trump [1,257,175 à hora de publicação deste artigo], está desde já elegível para ambas as análises.
Londres é a cidade com mais adesão à petição, mas cidades como Brighton, Bristol, Edimburgo e Manchester têm também elevados níveis de participação.
A petição foi lançada depois do líder trabalhista, Jeremy Corbyn, ter pedido que a visita do presidente americano ficasse suspensa enquanto as medidas por ele anunciadas no que respeita à imigração estivessem em vigor. Theresa May - que transmitiu o convite a Donald Trump durante a sua vista de sexta-feira aos Estados Unidos - recusou-se por três vezes durante a viagem a pronunciar-se contra as decisões de Donald Trump no que respeita a imigração. Só no sábado, e sob forte pressão da opinião pública, a primeira-ministra britânica, um porta-voz da primeira-ministra britânica divulgou um comunicado em que se podia ler que " a política de imigração nos Estados Unidos é da responsabilidade do governo dos Estados Unidos, assim como a política de imigração do nosso país deve ser definida pelo nosso governo (...) mas não concordamos com este tipo de abordagem e não é aquele que seguiremos".
'You are not welcome here'
"Você não é bem-vindo aqui, senhor presidente" ("You are not welcome here, Mr. President"), afirma o jornal The Daily Mirror na sua primeira página. Políticos de todas as tendências, inclusive do Partido Conservador a que pertence a primeira-ministra, criticaram a visita.
A deputada conservadora Sarah Wollaston disse que as visitas de Estado deveriam ser reservadas a líderes com uma contribuição positiva. "Isto não inclui Trump", escreveu no jornal The Guardian.
A líder dos conservadores escoceses e figura de destaque no partido, Ruth Davidson, afirmou que "a visita do atual presidente dos Estados Unidos não se ajustaria de modo algum às melhores tradições" deste tipo de ato, recordando que o propósito é "celebrar a amizade e os valores partilhados entre os países"."Deveríamos perguntar-nos, no Reino Unido, se vamos fazer isto por um homem que não respeita as mulheres, despreza as minorias, subestima os homossexuais, não sente compaixão pelas pessoas vulneráveis, e cujas políticas são baseadas em uma retórica de divisão", afirmou à BBC outra política conservadora, Sayeeda Warsi, muçulmana e integrante da Câmara dos Lordes.
Um herói olímpico e um deputado conservador, afetados pela medida
Um deputado conservador com dupla cidadania iraquiana-britânica, cujos filhos estudam nos Estados Unidos, pode ser afetado pelo decreto de Trump. A medida proíbe a entrada nos Estados Unidos de refugiados durante 120 dias, independentemente de sua origem, e durante 90 dias também a entrada de cidadãos de sete países com maioria muçulmana: Iraque, Irão, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen."Fico triste de saber que serei proibido de entrar nos Estados Unidos pelo meu país de nascimento", escreveu o deputado Nadhim Zahawi.
Na mesma situação estava o bicampeão olímpico dos 5.000 e 10.000 metros Mo Farah, britânico nascido na Somália. O ministro britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, anunciou no domingo ter conseguido uma isenção à medida para os cidadãos britânicos com outro passaporte de um dos sete países, como é o caso de Zahawi.
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