Num jantar-conferência na Universidade de Verão do PSD, a atual presidente da Fundação Champalimaud e antiga ministra da Saúde de Cavaco Silva recordou o momento da assinatura do tratado de adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia, que presenciou ao vivo, como “um dos mais emocionantes” dias da sua vida e dramatizou a importância das eleições marcadas para 26 de maio.
“Não quero que pensem que estou a exagerar, mas os riscos na Europa e os riscos que caem sobre as eleições europeias são, porventura, dos riscos mais importantes por que estamos a passar”, considerou, sublinhando que, “pela primeira vez”, um Estado-membro quis sair da União Europeia – o Reino Unido – e outros têm feito “percursos que não se conjugam” com os valores europeus.
Para Leonor Beleza, a questão crucial das próximas eleições, “tanto nas portuguesas como nas europeias”, será decidir se se quer manter a Europa como um espaço de liberdade ou “se se quer voltar aos tempos em que quem vinha de fora era estrangeiro, era estranho”.
"Sei que as eleições do ano que vem na Europa são, pelo menos, tão importantes para nós em relação ao que vai acontecer como as legislativas nacionais. Pelo menos", frisou.
A conselheira de Estado relatou aos jovens da Universidade de Verão, que decorre até domingo em Castelo de Vide, distrito de Portalegre, como viveu o 25 de Abril e os “anos exultantes” que se seguiram e pediu-lhes que não esqueçam que “todas as pessoas valem exatamente o mesmo e que é um valor europeu básico a ideia da igualdade”.
“Confesso que vejo com imensa dificuldade, depois do que passámos para aderir às comunidades europeias, (…) perceber que alguns países aos quais a Europa abriu portas escancaradas tenham dificuldade em compreender e aceitar aqueles valores pelos quais a Europa foi construída”, disse.
A propósito do caso noticiado na terça-feira pelo jornal Público, segundo o qual uma juíza do Tribunal da Comarca de Portalegre aceitou o abandono escolar de uma jovem cigana em nome da tradição, Leonor Beleza fez questão de demonstrar a sua indignação.
“Como é que é possível questionar que uma mulher de 15 anos tem de estar a estudar? Nós acolhemos, nós respeitamos as diferenças, mas nós não somos tolerantes no que tem a ver com direitos básicos”, defendeu, salientando que Portugal tem uma escolaridade mínima obrigatória para ser cumprida por rapazes e raparigas.
Na área da educação, Leonor Beleza sublinhou que não se pode discutir apenas “a carreira dos professores”.
“Preocupa-me muito o facto de os jovens não quererem ser professores. É preciso que ser professor seja uma profissão prestigiada para que as nossas escolas formem os nossos jovens”, apontou, considerando que a “educação pública de excelência” que teve na juventude tem de ser uma realidade para todos.
A ex-governante saudou o facto de a JSD ter pela primeira vez uma mulher na liderança, Margarida Balseiro Lopes, fez rasgados elogios ao trabalho do eurodeputado e diretor da Universidade, Carlos Coelho, e deixou um apelo aos jovens alunos perante o desafio de continuar a combater as desigualdades.
“Não à complacência, não à instalação, não a confundir os valores e os interesses que são os da maior parte das pessoas em nome de interesses de grupos, setoriais ou corporativos”, exortou, convidando-os a uma maior participação cívica.
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