O tribunal baseou-se no princípio do respeito pela vida privada e familiar e de um julgamento justo, previsto na Convenção Europeia de Direitos Humanos para justificar o seu parecer desfavorável à extradição.
"Estou muito feliz pelo meu cliente. Temia que ele terminasse os seus dias na prisão", disse o advogado de defesa Jean-Louis Chalanset, após a decisão ser recebida com alívio por pessoas próximas aos ex-militantes.
Esses oito homens e duas mulheres — atualmente com idades entre os 61 e os 78 anos — encontraram refúgio em França nas décadas de 1980 e 1990, onde reconstruíram as suas vidas graças ao então presidente François Mitterrand, que prometeu não extraditá-los caso abandonassem a luta armada.
Mas, em 2021, após meses de discussões, o atual presidente centrista Emmanuel Macron decidiu reverter a promessa do socialista e favorecer a aplicação dos pedidos de extradição da Itália, onde já foram condenados.
Os "Anos de Chumbo", assim chamados por causa da violência armada que grassou em Itália, marcaram a história do país sobretudo pelos ataques e ações das Brigadas Vermelhas, incluindo o sequestro e assassinato em 1978 do então ex-primeiro-ministro Aldo Moro.
Este período de lutas sociais violentas, marcado por ações de grupos revolucionários de extrema-direita e extrema-esquerda, resultou em mais de 360 mortos, milhares de feridos, 10 mil detidos e cinco mil condenações.
O advogado do Estado italiano, William Julié, disse que aguardará para ver se o Ministério Público francês recorrerá da decisão.
Durante as audiências, aqueles que concordaram em falar relembraram as suas raízes em território francês. "Mandar-me para morrer na prisão aos 70 anos (...) seria um castigo típico do obscurantismo", disse Marina Petrella. Esta ex-integrante das Brigadas Vermelhas, de 67 anos, insistiu no trauma que os processos causam às suas duas filhas e ao seu neto, após 30 anos de inserção em França, onde trabalhou como assistente social.
"Não entendo porque é que, depois de 40 anos, a Itália não pode considerar uma amnistia", disse outro ex-militante, Sergio Tornaghi, de 64 anos, que questiona o interesse de Roma em continuar a "persegui-los".
Em Itália, no entanto, há um amplo consenso sobre a extradição dos exilados. "As sentenças podem ser discutidas e criticadas, mas devem ser sempre respeitadas", comentou à AFP Ambra Minervini, vice-presidente de uma associação de vítimas.
"O caminho da justiça só pode terminar com a execução da sentença", acrescentou dias atrás a mulher, cujo pai, um magistrado, foi assassinado em 1980 pelas Brigadas Vermelhas.
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