A guerra da Ucrânia, desencadeada pelo ataque da Rússia em 24 de fevereiro, levou a União Europeia (UE) a tomar consciência de que “não basta” ser a “potência ‘soft’ [branda]” em que se tinha transformado, baseada numa teia de relações comerciais e a apologia, perante o resto do mundo, dos Direitos Humanos e de uma ordem internacional assente em regras, ao mesmo tempo que deixava as questões da segurança e defesa para os Estados Unidos da América (EUA), afirmou Borrel, numa conferência em Madrid, na Fundação Carlos de Amberes.
“Não podemos ser um herbívoro num mundo de carnívoros”, afirmou Borrell, que defendeu que se a UE quer “subsistir”, tem de ser “algo mais”, avançar na unidade e mobilizar mais meios para enfrentar as ameaças, o que passa, entre outros aspetos, por aumentar as suas capacidades militares, mas de forma coordenada e conjunta.
O alto representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança sublinhou que os estados-membros da UE estão a reforçar os gastos com defesa e há uma “política comum” nesta matéria, mas ainda não uma “politica única”, que deve ser o objetivo.
Borrell, que fez uma conferência com o título “como a guerra na Ucrânia mudou a Europa”, congratulou-se pela resposta unida e célere da UE ao ataque russo à Ucrânia, como já havia acontecido com a pandemia de covid-19, e defendeu que o mesmo deve ser feito com a crise energética e as consequências sociais e económicas da guerra.
O líder da Rússia, Vladimir Putin, não esperava esta unidade europeia nem o reforço da unidade transatlântica, considerou Borrell, que defendeu que o Presidente russo aposta agora em que o Ocidente não resiste à pressão de um inverno “com temperaturas baixas e preços altos” porque as sociedades não vão aceitar “o sacrifício que implica”.
“Essa é a verdadeira batalha”, de “ideias, atitudes, comportamentos e compromissos que as sociedades ocidentais têm de ter”, afirmou Borrell, que defendeu que “moral e politicamente” a Rússia já perdeu a guerra, mas “a Ucrânia ainda não ganhou”.
À Europa resta fazer “mais do mesmo”, que é ajudar militar e financeiramente a Ucrânia, continuar a impor sanções à Rússia e manter a atividade diplomática para isolar a Rússia no mundo, acrescentou.
Borrell defendeu ser importante neste momento, em que há novos ataques a cidades ucranianas por parte da Rússia, sublinhar o apoio europeu à Ucrânia e manter a unidade da UE na resposta a Moscovo, embora tenha reconhecido que “não é claro quanto tempo poderá durar”.
O político espanhol disse estimar que, entre recursos comuns da UE e os que cada estado-membro desbloqueou, a Europa assumiu o equivalente a 50% das ajudas que os EUA enviaram para a Ucrânia, o que “não é desprezível”, e acrescentou que com a crise energética também já se conseguiram “coisas impensáveis” há pouco tempo no seio da União Europeia.
Para fundamentar esta afirmação, sublinhou que em três meses, a Rússia passou de ser o fornecedor de 40% do gás que a UE importava para 10%, ao mesmo tempo que já não é origem de carvão e que a Europa deixará de comprar petróleo a Moscovo até ao final do ano.
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