A tecnologia tem evoluído para criar alternativas aos geradores a diesel, o equipamento mais comumente utilizado em emergências como a de segunda-feira. No entanto, apesar de serem a opção mais barata, na opinião de Alexandre Matias Correira, estudante de doutoramento de engenharia eletrotécnica, os geradores não são a melhor solução.

“O gerador de emergência é a solução que já existe há mais tempo e a que vai continuar a existir porque efetivamente é uma tecnologia que está aprovada, é fiável e é eficaz”, explica. Mas não é independente.

“Um gerador não fornece independência energética, vamos ter sempre de comprar combustível”, lembra. Em sítios remotos, sem acesso a estes recursos, a viabilidade dos geradores é curta e só consegue suprimir as necessidades dos serviços por um tempo limitado.

A nova alternativa é a microrrede elétrica, “que consegue funcionar sem necessidade de combustível fóssil, que é a maior desvantagem dos geradores a diesel, e a custos bem mais reduzidos, apesar do capital inicial ser maior”. De acordo com o engenheiro, a microrrede resiliente que está a desenvolver será a melhor forma de fornecimento de energia elétrica a cargas críticas - ou seja, em situações de apagão.

O que é uma microrrede resiliente

As microrrede já existia no mercado nos últimos dez anos e, antigamente, era utilizada em aplicações militares para bases remotas e isoladas. Entretanto, a tecnologia evoluiu para um equipamento mais preparado, e não um substituto, do gerador a diesel. Nos casos em que a microrrede integra energias renováveis ou pretende salvaguardar falhas pequenas, de menos de uma hora, inclui o gerador a diesel como plano B.

A nova tecnologia desenvolvida na Universidade de Coimbra (UC) pretende responder a falhas críticas, que exijam energia independente durante cerca de 72 horas. É uma opção para situações de emergência, e para o dia a dia, para quem ambiciona adotar sistemas independentes de energia.

Além disso, a microrrede procura apresentar-se como uma solução mais vantajosa: “uma microrrede é uma solução mais prática, é auto-registrativa”, esclarece o investigador. E, por isso, com o tempo, deverá tornar-se cada vez mais relevante.

A acrescentar à microrrede resiliente, o carregamento bidirecional por veículos é uma inovação com maior potencial. Consiste no fornecimento de energia à microrrede através dos carregadores dos carros elétricos, um sistema já testado no Departamento de Engenharia Civil da UC, com sucesso, na passada segunda-feira.

Apesar de ainda ser recente no mercado, e poucas pessoas conhecerem este sistema, Alexandre Matias Correia acredita que “é muito provável que já esteja integrado nos carregadores dos próximos carros elétricos”. Esta novidade “vai compensar ter uma micro-rede em casa, porque não depende do sol, não depende de um gerador, e permite utilizar o próprio veículo para alimentar a casa durante três a quatro dias”.

É possível adotar sistemas de microrrede em casa

“Neste momento o custo inicial da microrrede comparado a um gerador ainda não é viável”, nota, mas é uma solução eficaz para quem se quer tornar independente da rede pública de energia. Entre os benefícios, “enqaunto um gerador serve unicamente para uma emergência, a microrrede funciona mesmo em situações de regularidade”, acrescenta.

Além disso, a microrrede funciona como uma comunidade de energia, uma vez que “permite a troca de energia entre os vizinhos e entre bairros". No entanto, exige sistemas fotovoltaicos com capacidade de microrrede, o que não é acessível a todas as casas. Segundo Alexandre Matias Correia, “um sistema com microrrede é um acréscimo de capital de investimento e as pessoas muitas vezes quando compram um painel fotovoltaico, não se preocupam com isso e optam pelo sistema SIM dos veículos”.

Ainda assim, “é super plausível ter sistemas de microrrede” em casa, defende, com o acréscimo de colmatar a dependência dos geradores de emergência.

Uma resolução recordista, que ninguém esperava

Alexandre Matias Correia compara o acontecimento de segunda-feira com o apagão que aconteceu no Texas, nos Estados Unidos da América, em 2021. A região esteve sem luz e sem energia por duas semanas e três dias, durante o inverno. “O desafio foi maior, e, assim, a necessidade de independência mais urgente”, relata.

Em comparação, o engenheiro considera que o tempo que Portugal e Espanha demoraram a resolver o corte na corrente elétrica foi recordista. “ A nossa rede elétrica é muito estruturada, o que permitiu uma coisa que nem a engenharia estava à espera, que foi repor a eletricidade em menos de um dia”.

“Eu pessoalmente fiquei imensamente contente e impressionado”, comenta. Para o engenheiro, foi o melhor que seria possível fazer, sendo que para futuro considera importante continuar a investir em alternativas como a que apresenta.