Estas posições foram assumidas por José Sócrates num artigo hoje publicado na revista brasileira "Carta Capital", ao qual a agência Lusa teve acesso e que é dedicado ao líder histórico do Partido dos Trabalhadores (PT) do Brasil, tendo como título "Sei que estás em festa, pá".
"Não foi uma saída da prisão, mas uma reentrada no mundo. No mundo, literalmente: Televisões em direto e primeiras páginas dos jornais. Um simbolismo extraordinário. Regressado da provação, Lula da Silva entra em palco com firmeza e de coração limpo. O que mais impressiona é a energia - vem para lutar, não para se reformar. Vem sem ressentimento, mas sabe também o que não pode voltar a acontecer", escreve José Sócrates.
Neste artigo, o antigo secretário-geral do PS entre 2004 e 2011 refere-se às reações em Portugal na sequência da saída da prisão de Lula da Silva.
De acordo com José Sócrates, em Portugal, "o tom dominante foi de regozijo", até porque, na sua opinião, "muitos portugueses já conhecem a fraude judicial e a miserável conduta de um juiz [Sérgio Moro] que, para chegar a ministro, instrumentalizou a sua função, colocando-a ao serviço de uma caçada política".
"Na política institucional, o costume: O Partido Comunista e o Bloco de Esquerda saudaram a libertação, a direita institucional calou-se e o PS mostrou indiferença", sustenta.
Segundo o antigo líder dos socialistas, para o PS, "grávido de Estado, já nada o impressiona nesta história de direitos constitucionais".
Ainda no panorama político nacional, José Sócrates lança um duro ataque ao eurodeputado social-democrata Paulo Rangel pela posição que adotou na sequência da saída prisão do antigo Presidente brasileiro.
"Pelo caminho ainda vi na televisão um deputado europeu vomitando ódio contra Lula, dizendo que este é, sem dúvida, corrupto - só que não têm provas. Parece que é jurista. Como veem, não são só os brasileiros que tem que lidar com pulhas", afirma.
Neste seu artigo, José Sócrates defende que "a grandeza" do momento em que Lula da Silva abandonou a prisão "fez-se de muitas iniquidades".
"Vem da história do golpe, da Presidenta [Dilma Roussef] destituída sem crime de responsabilidade, como se o regime fosse parlamentar e não presidencial. Vem da história da lava jato, operação judiciária que se revelou ser o instrumento e a oportunidade para criminalizar todo um partido e perseguir o seu líder histórico. Vem da história da singular condenação de corrupção por factos indeterminados e da prisão em violação da Constituição", advoga o antigo líder do executivo português entre 2005 e 2011.
José Sócrates condena depois "a história da cassação dos direitos políticos, rasgando com petulância o direito internacional e a determinação do comité de direitos humanos das Nações Unidas para que o antigo presidente fosse candidato".
"A emoção do instante é também o resultado da memória de violência e de humilhação destes últimos anos e em particular da disputa eleitoral. De um lado toda a direita unida, a moderada e a extremista, a que se juntou a agressividade da imprensa e a vergonhosa parcialidade do aparelho judiciário. Por detrás deles surgiu ainda a sombra do partido militar que, passo a passo, em aproximações sucessivas, ganhou rosto e visibilidade na vida pública", salienta.
Do outro lado, segundo José Sócrates, "rodeados de uma linguagem ameaçadora e belicista e com o antigo presidente preso, os dirigentes e militantes do partido lutaram e lutaram e lutaram para defender o seu património de governação e a ímpar transformação social conseguida na economia, na distribuição de riqueza, nas oportunidades educativas, na redução das desigualdades, na inclusão social, na afirmação do Brasil como uma nova e jovem voz na cena da política internacional".
"Agora que o seu líder histórico dá um pequeno passo para a liberdade, tudo muda e o país parece outro. Fico contente", acrescenta.
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