Alguns dos seus antecessores caracterizaram-se por um perfil mais discreto, mas este ambicioso ex-senador republicano por Ohio, de 40 anos, não tem medo de se expor.

Também tem impulsionado a sua própria visão global de "America First" (Estados Unidos em Primeiro Lugar) nos 100 primeiros dias da atual administração, com uma série de ataques atordoantes contra alguns dos aliados mais próximos de Washington.

Em fevereiro, circularam pelo mundo imagens de Vance a dirigir palavras duras ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na Sala Oval da Casa Branca, antes de Trump também o repreender.

Foi este ex-Marine que Trump enviou para a Gronelândia para apoiar as suas reivindicações territoriais sobre este território autónomo administrado pela Dinamarca.

"É infalivelmente leal ao presidente, sabe não ofuscar  o chefe e age como um cão de guarda", explica o historiador político Matt Dallek.

Mas Vance também fez alguns "comentários escancarados que representam uma diferença significativa perante os seus antecessores", em particular pelas suas repreensões brutais a governos europeus sobre questões caras aos conservadores, como imigração e liberdade de expressão.

"Desrespeitoso"

Ninguém sabia bem o que esperar do personagem mutável que Trump revelou como companheiro de governação no ano passado.

Vance relatou grande parte da sua infância pobre e conturbada na sua biografia "Era uma vez um sonho" (Hillbilly Elegy), e chegou a levar a sua mãe à Casa Branca para comemorar os seus dez anos de sobriedade. Depois de servir no Iraque, formou-se em Direito em Yale e fez fortuna em Silicon Valley.

Emergiu como um crítico de Trump no primeiro mandato do bilionário na Casa Branca (2017-2021).  Mas a 20 de janeiro, dia da posse de Trump e Vance, há muito havia ficado para trás o homem que no passado comparou Trump ao líder nazi Adolf Hitler. Vance, ao contrário, provou ser leal ao extremo e um mensageiro brutalmente eficaz do mantra de Trump "Make America Great Again" (na sigla 'MAGA' ou Fazer os Estados Unidos Grandes Outra Vez).

Apenas algumas semanas após assumir o cargo, Vance atordoou aliados já nervosos ao fazer críticas duras à Europa sobre questões relativas a conflitos durante a Conferência de Segurança de Munique, onde alertou que havia um "novo xerife na cidade".

Trump libertou-o da coleira novamente durante a visita do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer. Vance deu um sermão a Starmer diante das câmeras sobre o que disse serem restrições à liberdade de expressão, o que provocou um recuo no Primeiro-Ministro britânico.

Mas foi no ataque violento contra Zelensky na Sala Oval que Vance demonstrou as habilidades, ganhando aplausos de republicanos que eram céticos sobre as suas credenciais "MAGA".

"Disse obrigado alguma vez durante toda esta reunião?", disparou Vance para Zelensky, chamando o presidente ucraniano de "desrespeitoso" antes de Trump lançar sua própria diatribe. Após o encontro, Vance insistiu que não tinha sido o "policia mau" numa discussão premeditada, mas o seu papel já estava claro.

"Muito solitário"

O confronto com Zelensky também refletiu a influência ideológica crescente de Vance na Ala Oeste da Casa Branca.

Já há muito tempo, que se mostra fortemente cético acerca da ajuda dos Estados Unidos à Ucrânia e reforça a necessidade da Europa fazer mais pela sua própria defesa.

O seu profundo envolvimento nas decisões mais sensíveis da administração ficaram evidentes no escândalo "Signalgate", que envolveu um grupo criado numa aplicação de mensagens instantâneas sobre ataques aéreos americanos contra os rebeldes houthis do Iémen, acidentalmente vazadas para um jornalista.

Vance foi a única voz a argumentar contra a ação militar, mas apenas porque envolveria a ação de forças americanas que, em última instância, beneficiariam a passagem de navios mercantes europeus pelo Mar Vermelho.

Mais recentemente, o jovem vice-presidente tornou-se o representante das reivindicações de Trump sobre a Gronelândia. O presidente americano chegou a dizer que o seu país "precisa" de ocupar a ilha para garantir a segurança de regiões do Ártico.

"Não podemos simplesmente ignorar os desejos do presidente", disse Vance, durante visita à Base Espacial Pituffik, das forças americanas, que tanto a Dinamarca, aliada dos Estados Unidos na NATO, quanto a Gronelândia consideraram provocativa. Fez a visita acompanhado da mulher, Usha Vance, cuja viagem a solo à Gronelândia foi cancelada devido à previsão de protestos.

Usha Vance, com quem o vice-presidente tem três filhos, deu uma visão rara sobre o mundo onde agora vive o marido. Disse que Vance, que se refere à mulher como uma influência de estabilidade, ainda confidencia consigo.

"Este pode ser um mundo muito, muito solitário para não partilhar com alguém", disse à publicação de direita The Free Press.

O próprio Vance reconheceu que se pode candidatar às eleições de 2028, após consulta com Trump.

No momento, o Presidente insinua que existem meios de desafiar a Constituição e de se candidatar a um terceiro mandato.

"Não", disse Trump ao canal Fox News em fevereiro ao ser questionado se via Vance como seu sucessor. "Mas ele é muito capaz".