Os braços voltam a erguer-se no ar. As vozes são atiradas o mais longe possível, muitas unem-se em coro. Escrevem-se cartazes que são levantados bem alto, para que todos consigam ler. No meio dos protestos, as chamas deflagram.
A descrição podia dizer respeito a qualquer manifestação quanto ao caso de George Floyd, que morreu asfixiado por um polícia, em maio, e cuja morte continua a desencadear protestos antirracismo e contra a violência policial nos Estados Unidos. Em parte, até é. Mas agora surge um outro nome: Jacob Blake.
No domingo, um vídeo foi publicado nas redes sociais: nas imagens, captadas por um telemóvel, vê-se um homem afro-americano, no estado do Wisconsin, acompanhado por dois agentes policiais brancos com armas em punho, enquanto contorna um veículo todo-o-terreno. O homem encaminha-se para o interior do veículo e, assim que abre a porta e tenta instalar-se no lugar do condutor, um polícia puxa-lhe a camisa e dispara. Várias vezes, pelas costas.
Segundo o advogado de direitos civis Ben Crump — que representa a família de George Floyd —, os três filhos de Jacob Blake estavam no interior do veículo quando a polícia disparou, indicando ainda que a vítima estava a tentar apaziguar uma discussão entre duas mulheres. Não estava armado, aparentemente não ofereceu resistência. E isto é tudo o que se sabe sobre aquele instante.
Jacob Blake tem 29 anos. Segundo o seu pai, em declarações ao jornal Chicago Sun-Times, citadas pelas agências internacionais, foi baleado oito vezes. Todavia, no vídeo ouvem-se sete disparos. O homem está hospitalizado e tem "buracos" no corpo, encontrando-se paralisado da cintura para baixo. Os médicos não sabem se a paralisia será permanente.
O pai, que mora em Charlotte, no estado da Carolina do Norte, viajou até Kenosha para acompanhar o seu filho. Tinha sido informado do sucedido no domingo e, alguns minutos depois, viu o vídeo que circulava nas redes sociais e que foi divulgado pelos media norte-americanos. E, tal como ele, muitos outros viram as imagens.
Face ao sucedido, a reação da população foi quase instantânea: após o incidente com Jacob Blake, os protestos chegaram às ruas da cidade de Kenosha, onde tudo aconteceu. Na segunda-feira, pela segunda noite consecutiva, centenas de manifestantes desafiaram o recolher obrigatório, entretanto decretado pelas autoridades locais, e saíram para protestar, obrigando a polícia a recorrer a gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes, que exigiam justiça racial.
Os manifestantes atiraram garrafas e dispararam engenhos pirotécnicos contra os operacionais das forças de segurança que estavam a proteger as instalações do tribunal local. O caos instalou-se. As imagens não deixam mentir: há carros completamente destruídos, pessoas indignadas com a situação, os gritos são os mesmos que se ouvem um pouco por todo o lado: "vidas negras importam", "sem justiça não há paz".
Pedem-se respostas. Quer-se saber ao certo o que aconteceu e procura-se atribuir responsabilidades. Mas, até agora, só há uma notícia: o Departamento de Justiça do estado do Wisconsin anunciou a abertura de um inquérito criminal sobre este caso, informando ainda que os polícias envolvidos no incidente foram colocados "em licença administrativa".
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