“Esperemos que a questão do programa defensivo do Irão (…) não seja usada como pretexto” pela nova administração norte-americana para “provocar novas tensões”, declarou Zarif, em conferência de imprensa conjunta com o homólogo francês, Jean-Marc Ayrault.
Zarif não confirmou, nem desmentiu a realização de um ensaio de míssil, de acordo com o governo norte-americano. A Casa Branca informou que estava a analisar os pormenores relativos ao ensaio de um míssil balístico do Irão, país que está sujeito a uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que proíbe ensaios de mísseis balísticos com capacidade para transportar uma ogiva nuclear.
Na conferência de imprensa, Zarif sublinhou que “a questão dos mísseis não faz parte do acordo” sobre o programa nuclear iraniano, assinado em julho de 2015 entre Teerão e o grupo dos 5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China – e a Alemanha).
O chefe da diplomacia iraniana respondia a uma pergunta sobre se o Irão tinha realizado um ensaio de mísseis recentemente. Zarif reiterou a posição habitual das autoridades iranianas, ao afirmar que os mísseis do país “não estão concebidos para transportar ogivas nucleares”.
ONU convoca reunião de emergência a pedido dos EUA
O Conselho de Segurança da ONU convocou uma reunião de emergência para hoje para discutir o teste de míssil balístico iraniano, a pedido dos Estados Unidos. A Missão norte-americana para as Nações Unidas disse desejar que o órgão mais poderoso na ONU discuta o lançamento de um míssil de médio alcance.
O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse anteriormente que não conhecia a “exata natureza” do teste e esperava receber informações mais tarde. Um dirigente da pasta da Defesa disse que o teste do míssil terminou uma reentrada “falhada” na atmosfera da Terra. O responsável, que falou na condição de anonimato, não deu mais pormenores, incluindo o tipo de míssil.
O porta-voz do Departamento de Estado, Mark Toner, disse que os Estados Unidos estavam a apurar se o teste do míssil balístico viola a resolução do Conselho de Segurança. “Quando são tomadas ações que violam ou são inconsistentes com a resolução, agimos de modo a responsabilizar o Irão e vamos instar outros países a fazerem o mesmo”, disse Toner.
França manifesta preocupação
O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Marc Ayrault, manifestou hoje, em Teerão, preocupação em relação ao alegado ensaio de míssil balístico.
Ayrault falava durante uma conferência de imprensa conjunta com o homólogo iraniano, Mohammad Javad Zarif. “A França manifestou, em várias ocasiões, a sua preocupação pela continuação dos ensaios de mísseis”, afirmou o responsável francês, apenas horas antes do encontro do Conselho de Segurança da ONU, convocado pelos Estados Unidos.
Para Ayrault, a realização contínua destes testes é “contrária ao espírito” da resolução do Conselho de Segurança, que permitiu o pacto nuclear de julho de 2015, e “prejudica o processo de restaurar a confiança estabelecido pelo acordo de Viena.
Moscovo diz que ensaio de míssil não é violação de acordo
Moscovo afirmou hoje que o ensaio de míssil de médio alcance por Teerão não constitui uma violação da resolução da ONU sobre o programa nuclear iraniano.
O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Riabkov, denunciou a reunião de emergência do Conselho de Segurança como uma tentativa de “envenenar a situação”. “A resolução 2231 do Conselho de Segurança não define qualquer proibição para o Irão de realizar estas ações e comporta apenas um apelo ao Irão para que não efetue ensaios de mísseis capazes de serem armados com uma ogiva nuclear”, disse à agência noticiosa russa Interfax. “Um apelo não é semelhante a uma proibição. Não é a mesma coisa”, acrescentou Riabkov.
O responsável russo lembrou que o acordo de julho de 2015 submetia o programa nuclear de Teerão a um “controlo internacional rigoroso”. Riabkov denunciou esta iniciativa como uma tentativa de “envenenar a situação e utilizá-la para alcançar fins políticos”.
O Irão afirmou que os seus mísseis nunca seriam armados com ogivas nucleares e garantiu não ter a intenção de desenvolver um programa de armas nucleares.
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