"Eu e alguns investigadores portugueses começamos a ter noção de que os meninos portugueses nas escolas de Londres eram os piores com aproveitamento escolar e pensamos que era bom levar a ciência feita por portugueses aos meninos emigrantes", contou Joana Moscoso, cofundadora do projeto “Native Scientist”, à margem do 7.º Fórum Anual de Graduados Portugueses no Estrangeiro - GraPE, que decorre durante o dia de hoje, na Associação Empresarial de Portugal, em Leça da Palmeira.
Em entrevista à Lusa, Joana Moscoso revelou que o projeto, iniciado há cinco anos, tem como principal foco "dar a oportunidade" e aumentar o acesso à ciência no seio das crianças e jovens que, uma vez no estrangeiro, acabam por desvalorizar a sua língua nativa.
"Nós que estamos lá fora, temos sempre o sentimento de como é que podemos devolver a Portugal o investimento que é feito em nós. E, participar nesta atividade, em particular, fez-nos sentir isso, que podemos continuar a contribuir para Portugal, ajudando a formar estes lusodescendentes", explicou.
Segundo a responsável, este programa, "centrado nas crianças e jovens", permite ainda que o multilinguismo seja aceite por todos e "fazer a ponte" entre a ciência e os investigadores, que conseguem que o seu trabalho "tenha impacto a nível social" .
"O trabalho científico é muito técnico e por vezes os investigadores têm uma enorme dificuldade em comunicar. Por isso, treinamos 'online' os cientistas, para que estes saibam comunicar com as crianças na sua língua não dominante, que é aquela que falam na escola", frisou.
Atualmente, o "Native Scientist" abrange mais de 1200 crianças, por ano, e trabalha com 200 cientistas, todos em regime de voluntariado, em seis países europeus: Reino Unido, Irlanda, França, Alemanha, Holanda e Noruega.
"Abrangemos estes seis países, mas 55% da nossa atividade é em português. Para já, fazemos atividades em 10 línguas diferentes, sendo uma delas o árabe", revelou.
O projeto está por isso dividido em dois 'workshops', um dedicado a crianças entre os seis e 12 anos, onde os cientistas vão às escolas promover a ciência, a língua de herança e a ambição, e outro, dedicado a adolescentes que promove a ida a museus e a laboratórios de investigação.
"Este é um projeto que está a crescer de forma orgânica, ou seja, o trabalho é maioritariamente voluntário e são os cientistas que gostavam de colaborar connosco que acabam por nos procurar para saber como podem lecionar no país estrangeiro onde estão", frisou.
À Lusa, Joana Moscoso revelou ainda que entre este e o próximo ano letivo, as investigadoras portuguesas preveem inaugurar o projeto em Lisboa, com workshops direcionados à comunidade polaca residente em Portugal.
"Falta-nos afinar o projeto, porque até ao momento era uma 'prova de conceito', mas a partir de agora, estamos prontas para assumir e definir uma nova estratégia para os próximos cinco ou 10 anos. A verdade é que já provamos que conseguimos fazer acontecer e ter impacto quer na comunidade científica, quer na vida destas crianças", acrescentou a cofundadora.
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