
O Papa Francisco trouxe novos fiéis para a Igreja Católica, aparentemente mais aberta e liberal. As mulheres aproximaram-se da fé, abriu-se espaço para fiéis da comunidade LGBTQIA+, a diplomacia e honestidade de Francisco quebraram estereótipos. Os desafios não vão ser poucos para Leão XIV.
Unidade
Desde a restrição da missa em latim até ao acolhimento dos migrantes, o Papa Francisco foi alvo de críticas internas sem precedentes nos seus 12 anos de pontificado.
Uma ala conservadora, especialmente no episcopado americano e africano, também o criticou pela abertura em relação aos leigos e às mulheres. A decisão de abrir caminho para a bênção de casais homossexuais no final de 2023 provocou uma forte reação.
E, por essas razões, o próximo Papa terá que amenizar o atrito entre as diferentes correntes dentro de uma Igreja onde coexistem sensibilidades culturais muito diversas.
O envolvimento dos protagonistas da Igreja em todos os níveis, também será uma questão central. Mais do que ponte, espera-se deste Papa capacidade de reação, honestidade e sensibilidade para com o contexto social e político que o rodeia.
Pedofilia
Apesar das muitas medidas tomadas para combater o abuso infantil na Igreja, como a revogação do segredo pontifício e a obrigação de denunciar os casos à hierarquia, as associações de vítimas expressaram alguma deceção perante as reações do Papa Francisco.
Esta questão é um dos maiores desafios para a Igreja e os escândalos podem continuar a abalar as instituições religiosas nas conferências episcopais de vários países, principalmente os mais vulneráveis a dinâmicas de poder e controlo de informação.
Muitos países asiáticos e africanos consideram essa questão um tabu. Mas na Europa não foi diferente, Itália, por exemplo, não iniciou uma investigação independente sobre os casos.
A ONG Bishop Accountability, que documenta a violência clerical, pede leis que obriguem a destituição de qualquer abusador comprovado e a publicação dos nomes dos padres condenados pelo direito canónico.
Diplomacia
Apesar de só ser eleito por um grupo restrito de homens, o papa também é um chefe de Estado e uma autoridade moral cuja voz importa num mundo atormentado por grandes conflitos, como na Ucrânia, Sudão e Gaza. O mundo passa por uma transformação caracterizada pela ascensão de governos populistas, pelos perigos associados ao desenvolvimento da inteligência artificial e por uma emergência ecológica, espera-se que adote um pensamento moderno, e seja proativo.
Francisco irritou Israel, a Ucrânia, a Rússia e os Estados Unidos com as suas declarações às vezes abruptas sobre conflitos e migrantes. O seu sucessor escolherá a flexibilidade para acalmar as relações? Principalmente com os seus compatriotas norte-americanos?
Também se espera saber quais serão suas posições sobre imigração, tema central do pontificado de Francisco, e uma das mais criticadas na administração de Trump.
Entre as demais questões está a delicada relação com a China, com a qual a Santa Sé renovou um acordo sobre a nomeação de bispos.
Mulheres
Francisco foi uma referência Igreja na mudança no conservadorismo e na discriminação de género dentro da Igreja. Qual vai ser o lugar que as mulheres vão ocupar nos próximos anos? De serventia? Ou de facto a narrativa de conceder às mulheres a capacidade de liderança e decisão vai solidificar-se?
Francisco abriu portas ao nomear mulheres para cargos importantes, como a primeira a líderar Dicastério da Cúria em janeiro. Mas as esperanças das associações feministas de uma abertura ao diaconato feminino foram frustradas pelos resultados da última assembleia mundial sobre o futuro da Igreja.
Há expectativas sobre a posição do novo Papa a respeito do papel dos leigos, que Francisco fortaleceu ao introduzir maior horizontalidade na Igreja.
Finanças
Outro tema fundamental abordado nas "congregações gerais" são as reuniões prévias ao conclave.
Francisco reformou profundamente a gestão financeira da Santa Sé que, no entanto, enfrenta um défice orçamentário crónico e uma redução nas doações dos fiéis.
Escândalos de desvio de dinheiro também afetaram a sua imagem, inclusive durante o pontificado de Francisco.
Estilo
Próximo dos fiéis, o argentino Francisco quebrou os códigos com um estilo singular, que o levou a recusar aceitar os aposentos papais para ir morar na sóbria residência de Santa Marta, a circular num simples Fiat 500, a responder cartas de fiéis ou a aceitar o chá oferecido a pelos peregrinos durante grandes congregações.
Mas também foi criticado pelo estilo muito pessoal de governação, às vezes considerado autoritário, e pela sua excecional capacidade de comunicação: falava muito em público sobre diversos temas, às vezes preocupando os diplomatas da Santa Sé.
O próximo Papa terá que conseguir mostrar-se próximo dos fiéis sem dar a impressão de "imitar" Jorge Mario Bergoglio, e terá que encontrar uma nova maneira de imprimir o seu próprio estilo.
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