O investigador da Universidade da Colômbia Britânica, no Canadá, professor da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, Stephen J.A. Ward começou por afirmar que, "nos dias de hoje, a ética jornalística se trata de um problema e não apenas de um conjunto de normas", remetendo para uma "discórdia nos valores fundamentais" que guiam os jornalistas.
Autor de "Radical Media Ethics", o seu mais recente livro, que publicou em 2015 e apresentou em Lisboa, Stephen Ward alertou para "o declínio [da fase] pré-digital", que segue "em direção à tentativa desordenada, caótica [e] global de [estabelecer um código] de ética no digital".
Ward incita, por isso, académicos, profissionais e estudantes a responderem aos vários dilemas que o jornalismo contemporâneo atravessa, argumentando que "o distanciamento [dos profissionais] não é uma opção".
Em entrevista, por escrito, através de correio eletrónico, à Lusa, salienta que as escolas de jornalismo “precisam de formar profissionais capazes de funcionar como 'pontes' de entendimento entre culturas" diversas, servindo normas e princípios criados a nível global.
Quanto à possibilidade de as redes sociais facilitarem a difusão de informação falsa (“fake news”), o autor de obras como “Global Journalism Ethics” (2010) e “Ethics and the Media: An Introduction” (2011), não encara a publicação de notícias nas plataformas digitais, como o Facebook ou Twitter, como uma desvantagem.
“Na minha opinião, o compromisso de [praticar] jornalismo global, em democracia, convida os cidadãos a fornecerem perspetivas e vozes adicionais [a um] projeto comum com vista a determinar o que é bom [conteúdo jornalístico], por eles próprios”, acrescenta a investigador.
Contudo, “esta participação [da parte dos cidadãos] não é suficiente”, sendo que, para difundir bons conteúdos dentro de redes sociais, “os participantes [têm de] ser responsáveis, aderindo às normas do relato verdadeiro [e] da verificação das fontes de informação, evitando versões [que remetam para um] combate ideológico, parcial e distorcido”.
Por fim, identifica a “transparência e responsabilização” de todos os cidadãos aptos a publicar conteúdo como elementos de um sistema de “macro resistência” à propagação de “notícias falsas e da manipulação ideológica da informação”. Segundo Ward, esta resistência representa “em si mesma uma forma de ética no jornalismo”, conclui.
Stephen J.A. Ward passou por Portugal no passado dia 12, para participar numa conferência organizada pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em parceria com o Centro de Investigação em Comunicação, Informação e Cultura Digital (CiC.Digital NOVA-FCSH), dedicada à apresentação de propostas de resolução para problemas recorrentes do jornalismo contemporâneo.
A palestra do investigador norte-americano inaugurou a conferência, intitulada “Ética Jornalística para o Século XXI – Novos Desafios, Velhos Problemas”, orientando-se por três pilares fundamentais - denominados pelo próprio "Perturbar, Inventar, Colaborar" - os quais forneceram o mote do evento.
A conferência contou com um painel de participantes regido por questões mais académicas e teóricas da profissão, durante a primeira parte, seguindo-se, nos restantes painéis, o debate de possíveis soluções para dúvidas no âmbito da ética, provenientes do exercício regular do jornalismo.
Comentários